quinta-feira, 13 de dezembro de 2012

Dependência e custos do outsourcing na Administração Pública e não só

A estratégia do atual governo parece contrariar todos os princípios e boas práticas de contratação externa de sistemas e tecnologias de informação (SI/TI). A gestão do outsorcing no Estado, suportada por algum “apoio espiritual” académico mal informado e deslumbrado pela ribalta política e mediática, está a seguir o caminho contrário ao que os maiores especialistas na gestão do outsourcing e que o próprio bom senso recomendam.
O Estado está a entregar e a centralizar em fornecedores e em produtos únicos sistemas de baixa especificidade de negócio (“pão com manteiga”) e em que existe muita oferta e diversidade de produtos e competências técnicas no mercado, como é o caso da gestão financeira, dos recursos humanos e dos recursos patrimoniais (ERP) e ainda da gestão documental, entre outros.
Esta entrega a fornecedores únicos de sistemas em que existe muita oferta e concorrência no mercado poderá ter uma redução de custos no curto prazo por razões de escala, mas conduz a médio e longo prazo a uma captura por parte dos fornecedores escolhidos e a uma dependência do Estado que irá com toda a certeza degenerar em custos finais muito mais elevados (TCO) e a uma perca de soberania a que nenhum país do mundo pode estar sujeito.
Dar o “pão com manteiga” a fornecedores únicos é um erro básico e de quem não sabe o que é gerir outsourcing. Trata-se de “commodities” ou de produtos de alto consumo em que se tem de apostar sobretudo em normas e mecanismos de interoperabilidade entre eles. Como recentemente recomendou Andrea di Maio do Gartner "Slow down on centralization. Re-empower agencies by focusing on commoditization and interoperability".
Bem basta os constrangimentos a que estamos sujeitos na dependência de maior longo prazo e no aumento de custos no outsorcing de sistemas que têm baixa oferta no mercado e de grande especificidade, como os sistemas fiscais, de segurança social, de justiça, de defesa e segurança interna, etc. Trata-se de “pratos gourmet” a que o Estado deverá ter a maior atenção, podendo nalguns casos reservar para si o controlo soberano ou até ter uma estratégia deliberada de insourcing com recursos técnicos e humanos próprios.
Esta quadro foi apresentado numa conferencia que efetuei há mais de 10 anos, e parece-me que está perfeitamente atualizado.


Sem comentários: