quinta-feira, 16 de maio de 2013

APDSI discute aplicabilidade do Business Intelligence na Administração Pública



Na sessão de abertura da conferência "Serviço Público Inteligente", que decorreu na quarta-feira, 15 de maio de 2013, no Campus de Campolide da Universidade Nova de Lisboa, o professor José Dias Coelho, presidente da Direção da APDSI, começou por considerar que "é uma grande ousadia falar de serviço público inteligente. O objetivo da conferência é estudar como as ferramentas de Business Intelligence podem contribuir para melhorar o serviço público".

A necessidade de haver independência entre o âmbito político e a gestão da Administração Pública, com maior responsabilização dos gestores e a definição da estratégia de um organismo e da sua implementação, foram apontados como "princípios que marcam a diferença entre o uso das ferramentas de BI e a criação de um sistema de BI", alertou João Catarino Tavares, coordenador do Grupo de Trabalho (GT) "Business Intelligence" da APDSI.

No entender de João Catarino Tavares, uma democracia mais participada ocorrerá quando o evoluir das questões relacionadas com o Governo e a Administração Pública for divulgado na Internet com acesso disponível a todos os cidadãos. O Biorc (Business Intelligence + Orçamento) foi apontado como um repositório de dados com um conjunto de ferramentas desenvolvidas à medida "onde a informação está integrada e podemos cruzar dados que até hoje estavam estáticos", ressalvou coordenador do GT Business Intelligence da APDSI. O Biorc facilita a elaboração de relatórios dinâmicos com "todo o tipo de análises possíveis e alertas mensais enviados por e-mail que permitem a verificação de um conjunto de dados, o que resulta numa melhoria do sistema de tomada de decisão".

Nesta primeira apresentação percebemos que os recursos humanos são cada vez mais escassos na Administração Pública mas a sua estrutura habilitacional tem vindo a aumentar.

A apresentação de Elsa Cardoso, professora e diretora do Mestrado de Sistemas Integrados de Apoio à Decisão do ISCTE, focou-se nos sistemas de BI voltados para o management para se conseguir perceber as causas de sucesso e insucesso de uma unidade de negócio. Reconhecendo que "é preciso medir para gerir e melhorar, para uma gestão pró-ativa, positiva, que premeia o sucesso e não o desconhecido", a professora sublinhou, ainda, que "há inúmeros dados na fonte da organização que serão integrados num repositório central, o datawarehouse. Mas também é preciso uma camada de exploração de dados que ajuda a perceber quais os que são úteis para as decisões que eu quero tomar. Isso é o que conta ao final do dia". No decorrer da apresentação foram apresentadas diversas formas técnicas de explorar e tirar partido desses dados.

Os instrumentos legais de gestão levados a cabo pelo CEAGP - Curso de Estudos Avançados em Gestão Pública, que envolve 19 instituições, foram demonstrados por Henrique O'Neill, professor associado do ISCTE. Segundo o professor, o trabalho de formulação da estratégica deve cumprir três fases: a da caracterização do organismo público, a missão comunicacional, o diagnóstico estratégico e o operacional de onde sai uma matriz de prioridades a desenvolver e uma proposta de solução. "Os valores da instituição são pilares fulcrais nos indicadores de desempenho. Os instrumentos legais e de gestão são outros componentes que constituem avaliação para esta abordagem metodológica", resumiu Henrique O"Neill.

José Carlos Ramos, da Administração Regional de Saúde de Lisboa e Vale do Tejo, concretizou o exemplo bem sucedido em matéria de Business Intelligence da instituição que representa, bem como António Gameiro Marques, Chief Information Officer da Marinha, que também desvendou a experiência daquele organismo do Estado na gestão estratégica de portfolio e de projetos.

A necessidade de gestão da informação de referência também levou à aplicação do Business Intelligence no Banco de Portugal, como ficou demonstrado na apresentação de Manuel Sequeira cuja arquitetura dividiu em negócio, concetual e tecnológica. Os Bancos da Sérvia e da Alemanha estão a procurar adaptar alguns destes processos e experiências portuguesas de BI. "São agregados estatísticos que permitem também agregar o setor ao país", disse Manuel Sequeira para justificar o interesse de bancos estrangeiros na estratégia nacional.

Uma das apresentações que mais questões suscitou entre a audiência foi a de Paulo Rui Oliveira, da Autoridade Tributária e Aduaneira (AT), nomeadamente no que concerne aos contribuintes a inspecionar: "Dantes a seleção de contribuintes para inspeção era feita com base em critérios estáticos. Neste momento existe um sistema que permite a criação, gestão e avaliação de critérios de seleção de contribuintes. O cruzamento dessa informação fiscal leva à deteção de divergências e faltas declarativas das obrigações fiscais dos contribuintes". Apesar de alguma contestação, Paulo Rui Oliveira reconheceu a importância da AT combinar conteúdos numa só unidade de informação.

O Portal Base de contratos públicos online, cuja base de dados é alimentada permanentemente pelo Diário da República Eletrónico, plataformas eletrónicas e entidades adjudicantes aos contratos e execução dos mesmos, foi alvo de atenções por parte de Isabel Rosa, atualmente aluna de Doutoramento. O Portal Base recorre ao BI, como explicou Isabel Rosa: "O Business Intelligence é uma ferramenta que nos dá a capacidade de olharmos para o passado e situarmo-nos no futuro".

Nelson Trindade, da SocioSistemas, ressalvou que a questão da mudança em sistemas complexos tem de ser feita através de lógicas fluídas. "Não há preto nem branco, há cinzento muito escuro e cinzento muito claro. Para se fazer a mudança em sistemas complexos temos que ir além do óbvio. As soluções não são contínuas, são feitas em "S", ou seja, nascem, crescem, decaem e morrem. Quem antecipa a nova curva enriquece. Fazer mais e melhor não chega; é preciso fazer diferente", provocou o professor.

O professor do ISEGI, Fernando Bação, concluiu que "o valor da informação aumenta com a sua exactidão", enquanto apresentou um modelo próprio sobre como criar organizações inteligentes.

O Grupo de Business Intelligence (BI) existe desde o último trimestre de 2012, e é composto por elementos da administração pública, professores universitários e representantes de empresas de BI.

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