Minjuan Wang, professora de Learning Design e Tecnologia na School of Journalism and Media Studies, especializada nos aspetos socioculturais da educação online, esteve pela primeira vez em Portugal para participar no workshop da APDSI sobre “O Futuro da Educação - Teaching is dead? Long live Learning”. Para a professora, o futuro da educação passa, à semelhança de tantos outros “futuros”, por soluções na cloud num misto de ensino à distância e ensino presencial.
Minjuan Wang tem assinado vários artigos científicos focados na educação inteligente e empreendedorismo e é editora-chefe da revista “EAI Transactions on Emerging Technologies and Pedagogies for Education”. Enquanto especialista em educação, a keynote speaker acredita que os alunos do futuro serão conquistados por uma experiência de ensino social, com oportunidades de conexão e networking, ensino emocional, que os faça sentirem-se bem, e uma experiência cognitiva que os leve a estudar, atraídos por uma presença real do professor que orienta ao invés de simplesmente debitar matéria.
Com as novas tecnologias disponíveis, os livros, em formato digital, tornam-se mais acessíveis, sendo esta outra das vantagens apontadas por Wang que destaca, ainda, a realidade aumentada como uma das experiências já testadas, com sucesso, no ensino (através da aplicação Aurasma), os cursos online e os vídeos. Tudo, sempre, com acompanhamento do professor: «Se dermos atenção aos alunos, vamos conquistar a atenção deles», acrescenta.
Já no mobile learning, Minjuan Wang vê vantagens na forma como os alunos se entregam à matéria: sentem, descobrem, filtram o que mais lhes interessa, conhecem e interagem. Com o ensino cada vez mais desenhado para o online, o modelo BYOD - Bring Your Own Device, está a tornar-se mais popular.
Adérito Marcos, professor da Universidade Aberta, afirma que o ensino à distância sempre se constituiu como o grande desafio da instituição que tem, no entanto, uma questão preocupante nos dias de hoje: o abandono das aulas mesmo por parte de alunos que pagam propinas. Maria de Lurdes Serrazina, professora do IPL, gostaria de ver os programas curriculares melhor adaptados ao online: «Só há ensino se houver aprendizagem. As tecnologias são um recurso importante mas o ensino tem de ser mais voltado para o aluno, de forma a que o papel do professor seja o de alguém que organiza o ambiente de aprendizagem».
Já António Domingos, professor da FCT / UNL, está confiante no futuro: «O professor não desapareceu e duvido que a tecnologia o substitua no trabalho do ensino. Proibir as ferramentas não é solução mas devem ensinar-se boas práticas de online». Miguel Mira da Silva, Professor do IST / UL, sublinha que, se nada for feito relativamente às novas tecnologias na sala de aula, as universidades correm o risco de ter «salas vazias porque os alunos sentem que não estão a aprender nada no modelo atual».
Para Raquel Vaz Patrício, Professora do Instituto Politécnico de Bragança, o sucesso do futuro passará por uma abordagem mista que permita um «convívio entre os mais velhos e os mais novos que resulta, sempre que se experimenta, num melhor comportamento dos mais novos na sala de aula ao valorizarem mais essa experiência do que a pesquisa por conhecimento».
O segundo painel de oradores da tarde foi constituído por representantes dos grupos parlamentares, onde se regista a ausência do PSD, e onde Porfírio Silva, do Grupo Parlamentar do PS, reconhece que as tecnologias abrem algumas possibilidades e fecham outras, daí que também acredite numa colaboração entre gerações na qual as novas formas de aprendizagem se integram bem nas novas gerações: «A escola tem de ser mais autónoma do ponto de vista das aprendizagens sem perder a referência curricular nacional».
Joana Mortágua, do Grupo Parlamentar do BE, também não vê vantagem no facto de haver grandes quantidades de informação disponíveis sendo, do seu ponto de vista, necessário aproveitar as inovações tecnológicas para o desenvolvimento de competências quer nos professores, quer nos alunos, o que implica uma mudança no sistema de avaliação. Opinião semelhante é partilhada por Ana Rita Bessa, do Grupo Parlamentar do CDS-PP, que defende ainda uma sensibilização maior para o ensino não superior onde «a utilização dos smartphones pode ser um princípio ao invés de se tentar que todos tenham um tablet».
Ana Mesquita, do Grupo Parlamentar do PCP, fala da necessidade de se perceber ao serviço de quem está a tecnologia «e mediante isso fazer opções políticas porque, ao nível dos programas, é preciso criar condições para os professores acederem à informação». Ana Mesquita não esqueceu, contudo, que o suporte papel é de grande importância no desenvolvimento da escrita.
Do SIPE- Sindicato Independente de Professores e Educadores esteve Júlia Azevedo que elencou quatro pontos essenciais no combate ao hiato entre quem não nasceu na Era das novas tecnologias e quem já nasceu com elas: formação de professores, rejuvenescimento do corpo docente, acompanhamento da comunidade educativa na utilização das novas tecnologias, exploração e aproveitamento deste potencial ao serviço da criança e da felicidade.
José Manuel Gonçalves, da CONFAP - Confederação Nacional das Associações de Pais, não descarta, por completo, o papel dos pais neste “disciplinar” do uso das novas tecnologias, mas lembra que é aos professores que compete igualmente uma larga fatia no papel educativo: «Os pais confiam na escola mas a verdade é que há uma geração de professores que não lida bem com as novas tecnologias».
Coube a Etelberto Costa, do Conselho Estratégico da Futurália, fechar este segundo painel, moderado por Luís Vidigal, presidente da Direção da APDSI, deixando a mensagem de que os contextos e os conteúdos da escola têm de passar a ser centrados no aluno, incentivando-o à «aprendizagem ao longo da vida».
Minjuan Wang esteve no auditório INE da NOVA IMS, em Lisboa, a 23 de junho de 2017.