quarta-feira, 30 de março de 2011

Segurança Social a quanto obrigas

Chegou a hora de um cafézinho ao lanche. Afinal, o café é uma excelente forma de enganarmos o nosso cérebro e conseguirmos convencê-lo de que estamos rijos que nem um pêro para trabalhar. Mas hoje até tenho desculpa porque a burocracia do nosso sistema de Segurança Social (que não é nem segura, nem voltada para o conforto da sociedade) chega a tirar a vontade de trabalhar a qualquer ser Humano que se preze e que tenha um nadinha de cérebro activo, que se contorce diabólicamente com a falta de qualidade dos serviços prestados nos guichets de atendimento ao pobre desgraçado público.

No passado domingo, fui surpreendida com uma carta da Segurança Social na caixa do correio, certamente esquecida desde sexta-feira, e ainda bem, que me notifica para o facto de ter sido, por vontade de alguém que desconheço, integrada no Regime dos Independentes. A coisa até soa bem, "independente" é uma palavra com a qual tenho algumas afinidades pessoais, não significasse isto que, para além dos milhares de euros que a minha entidade patronal desconta todos os anos para a dita instituição em meu benefício, eu ainda teria de pagar qualquer coisa como 124 euros por mês, graças à minha tal actividade "independente", amplamente conhecida como prestação de serviços a recibos verdes.

Almoço domingueiro de família estragado, uma queda aparatosa instantes depois de ter lido a totalidade da notificação (sim, fui sempre a descer escadas, qual maratonista da corrida da mulher) e uma semana a começar nos serviços públicos da Segurança Social, às 9h00:

- Bom dia, estou aqui porque recebi esta notificação que refere a minha obrigatoriedade de começar a pagar...
- Então o que é que quer? Se a senhora nunca pagou...
- Minha senhora (se há coisa para me tirar do sério é a assumpção por parte de criaturas que nunca me viram antes de que sou uma caloteira nata e que ando para aqui a empatar o sistema com as minhas dívidas), devo deduzir portanto que agora tenho que descontar para duas "Seguranças Sociais", é isso?
- Hã? Não, quem é que lhe disse isso?
- (Exibo a carta já com sublinhados fluorescentes nas frases a que a dita senhora deveria prestar mais atenção).
- Então você (note-se a perda de formalidade no tratamento pessoal) não vê notícias? (Quem? Eu? Notícias? Que é lá isso?) Isto agora é assim, se já paga tem que nos provar. Mas alguma vez descontou? (Quem? Eu? Evidentemente que não... desde os 17 anos que andava a ver se passava despercebida mas já que me apanharam...)
- Sim, minha senhora, eu trabalho desde 1996. À parte do 1º ano de vida activa, no qual os indivíduos estão isentos do pagamento, que sempre descontei, quer por iniciativa "individual", quer por conta de outrem.
- Então preencha isto (mais um papel) e entregue.
- É só preencher isto? (Já não obtenho resposta porque enquanto olho para o dito papel já a senhora, eficientíssima como adiante vamos perceber melhor, se apressava a carregar no botão que faz o número de senhas avançar no placard informativo. Tão tecnológico este nosso Portugal).

14h30, mesmo local:

- Boa tarde, venho entregar este documento que vem na sequência desta carta que recebi.
- Deixe ver... (clique aqui, clique acolá, franzir de testa, óculos a cair, o rato a fazer autênticas demonstrações de skimming tapete fora). Mas esta declaração é mentira!
- (Ai! Juro que todos os aurículos e ventrículos da direita e da esquerda do meu coração bloquearam por breves instantes, levando a um ligeiro arroxear da minha expressão facial) Mentira?
- Pois com certeza! (volume dos decibéis a subir) Estou aqui a ver que só tem descontos feitos em 1997 pela empresa "X" e em 1998 pela empresa "Y", a partir daí nunca mais pagou! (Volte a notar-se a rejeição nata de algum erro informático que lhe possa estar a dar tal informação. Não, computadores amarelentos não falham. Mulheres na casa dos 30 mentem, isso sim, são tramadas).
- Eu estou a dizer-lhe que toda a vida descontei, eu tenho aqui os documentos do IRS de 2010 que o comprovam. (Tempo perdido. A senhora não consegue ler e interpretar mais nada que vá além das parangonas da TV Guia).
- Então tem mas é que trazer um papel (outro?! Inacreditável!) do seu patrão a dizer que lhe está a fazer os descontos.


Naturalmente que a direcção de Recursos Humanos da empresa para onde trabalho me garante que todos os descontos estão a ser feitos para a Caixa dos Jornalistas mas que não é competência da empresa passar um "papel" a declarar isto mesmo. E aqui é que está o busílis da questão. Os serviços centrais da Segurança Social não têm qualquer ligação ou forma de acesso às outras "Caixas", o que levou a funcionária acima referida a assumir que pouco ou nada descontei para a minha futura reforma. Efectivamente, desde Agosto de 1998 que desconto para a Caixa dos Jornalistas. Entretanto, e depois de me ter sido dito que o e-mail da Caixa dos Jornalistas não está a funcionar (!), vi-me obrigada a recorrer a uma instituição pública para enviar um fax com a solicitação, por escrito, do pedido de uma declaração com a tão desejada informação e justificando o motivo pelo qual necessito desse "papel".

Quando o "papel" estiver pronto, o que já percebi que pode levar algumas semanas, junto-o ao outro "papel" onde declarei estar a descontar por conta de outrem (e não menti), tiro uma manhã de folga no meu trabalho e volto a encontrar-me com a simpática, acessível e atenciosa funcionária que, por certo, vai encontrar qualquer outro motivo para duvidar da autenticidade dos meus descontos.

Portugal, tal como a APDSI já deu a conhecer, está entre os países com mais condições físicas e tecnológicas para aumentar a sua competitividade, no entanto, não o faz. Porquê? Burocracia? Limites humanos? Imposição de pequenos poderes? Este parece-me ser mais um caso em que o SIMPLEX não passou das suas boas intenções já que se mantêm estas barreiras incompreensíveis em pleno séc.XXI quando a prova da minha "inocência" e do erro dos serviços da Segurança Social depende de um molhinho de papéis, de consideráveis contratempos e burocracias inúteis.

A questão da ausência de redes comuns e do fantasma do cloud computing, bem como a inexistente formação de funcionários para lidarem correctamente com os respectivos equipamentos informáticos, leva a esta multiplicação de entidades semelhantes, paralelas e redundantes. Para quando uma Segurança Social única?

quinta-feira, 24 de março de 2011

Direcção da APDSI apresenta planos até 2014


A APDSI mantém a actual direcção para o triénio 2011-2014. A continuação da mesma estrutura da Assembleia Geral, Direcção e Conselho Fiscal, foi aprovada na Assembleia Geral Ordinária, do passado dia 23 de Março, na qual foram, também, apresentados os objectivos para os próximos três anos. «Assegurar a sustentabilidade futura do movimento subjacente à promoção da Sociedade da Informação e do Conhecimento em Portugal, procurando superar o período de crise em que o país está envolvido» é a principal linha orientadora da direcção da Associação.

As actividades a decorrer até ao final de 2011 nas áreas da sociedade, mercado e tecnologias, administração pública, cooperação, desenvolvimento social e internacionalização, pretendem «reforçar a identidade da APDSI, atrair mais jovens para o seio da Associação, bem como alargar a base de líderes de grupos de trabalho, explorar sinergias com outras associações, promover o voluntariado e continuar a apostar no reforço do sector empresarial nas indústrias de Tecnologias de Informação e Comunicação» referiu o professor Dias Coelho, presidente reeleito para a Direcção da Associação.

Como novos membros do Conselho Geral da APDSI foram designados e aprovados Dr.Paulo Neves, da Oni, Eng.Rui Afonso Lucas, do INA – Instituto Nacional de Administração, Dr.José Gonçalves, da Logica e Eng.Sérgio Catalão, da Nokia Siemens Networks.

Na Assembleia Geral Ordinária foi, ainda, aprovado o relatório de contas referente ao ano de 2010, bem como a proposta de orçamento e actividades para 2011. De referir que no ano passado foi feita a instalação de um software de vídeoconferência (WebEx) que se tem revelado «um instrumento muito útil porque nos permite ter grupos de trabalho ao nível nacional e internacional».

O plano de acções para 2011 inclui algumas iniciativas sobre temas "fracturantes" na Sociedade da Informação, como por exemplo: "Segredos de Estado - Transparência na Internet", "Redes Sociais Como Um Factor de Improdutividade - Sim ou Não", "Roubo de Identidade na Era Digital" e "O Crime Compensa na Internet?".

quarta-feira, 23 de março de 2011

As oito unidades de negócio ameaçadas com as tecnologias


Com o constante desenvolvimento das Tecnologias da Sociedade da Informação, muitos negócios estão a desaparecer. Um estudo, levado a cabo pela empresa americana IBISWorld Inc., em Los Angeles, conclui que, mesmo quando o mundo começar a recuperar da actual crise económica, muitas unidades de negócio vão acabar por completo.

Segundo o estudo, até 2016, as lojas de discos vão sofrer uma quebra nos lucros superior a 60%, tal como vai acontecer com as vendas de DVDs.

A maré tecnológica da nova sociedade também se prevê que afunde negócios de jornais em formato papel, confecções de roupa, serviços de revelação de fotografias e operadores de telecomunicações com fios. Outros negócios que estão com os dias contados, ainda de acordo com aquele estudo americano, são os de aluguer de vídeos e das empresas que se dedicam à pós produção áudio e vídeo.

De salientar que as livrarias estão fora desta “lista negra”, pelo que os números de vendas actuais estão longe de ser ameaçadores num futuro próximo.

O relatório, divulgado no início de Março, observa, no entanto, que apesar do futuro destes mercados parecer sombrio, não significa que todas as lojas estejam condenadas. «As empresas que protegem a sua força de mercado, que mantêm o seu foco em nichos de oportunidades e conseguem capitalizar com a diminuição do número de concorrentes podem, certamente, colher maiores recompensas desta crise», lê-se no relatório.

terça-feira, 22 de março de 2011

A APDSI no facebook


Caro(a) Amigo(a),

Desde já um muito obrigada por nos acompanhar na web. Vimos, agora, convidá-lo(a) a integrar a nova página da apdsi no facebook.

Com o advento das Tecnologias da Informação, as plataformas de redes sociais tornaram-se numa ferramenta essencial para melhorar a nossa comunicação e torná-la mais orientada.

Assim, temos o grato prazer de lhe comunicar que a apdsi está agora em http://www.facebook.com/apdsi.portugal. Aqui pretendemos estimular a troca de ideias sobre a Sociedade da Informação e, dessas conversas entre perfis, procurar encontrar soluções inovadoras ou simples opiniões sobre os desafios que nos surgem no dia-a-dia.

Adira à nossa nova página no facebook e envie convites aos seus amigos.
Gratos pela atenção.

Basta clicar aqui:

Apdsi Portugal

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terça-feira, 15 de março de 2011

Olímpiadas Nacionais de Informática (ONI'2011)


Estão abertas as inscrições, até ao próximo dia 10 de Maio, para as Olimpíadas Nacionais de Informática (ONI). Estas Olimpíadas são um concurso de âmbito nacional, promovido e organizado pela APDSI — Associação para a Promoção e Desenvolvimento da Sociedade da Informação — em colaboração com o Departamento de Ciência de Computadores da Faculdade de Ciências da Universidade do Porto e com o Departamento de Engenharia Electrónica e Informática da Faculdade de Ciências e Tecnologia da Universidade do Algarve.

O desafio destina-se aos jovens que frequentam o ensino secundário ou o ensino básico em qualquer escola do território nacional, e é constituído por uma prova nacional realizada em duas fases. Nas provas os concorrentes têm de resolver problemas de programação, num ambiente de competição leal e salutar com os colegas de outras escolas.

As provas de treino e de qualificação fazem-se via Internet. A final realiza-se no Porto.

Mais informações em: http://www.dcc.fc.up.pt/oni/2011/

Web 2.0: Das promessas tecnológicas aos desafios sociais

As questões das redes e os requisitos que é necessário incluir no pacote de ferramentas individuais para lidar com estes fenómenos.
A apresentação inclui alguns dos slides da apresentação do grupo permanente Web 2.0 da APDSI, realizada no 25 de Janeiro de 2011.

sexta-feira, 11 de março de 2011

Oficinas Sénior para a Web 2.0


Portugal é o país da União Europeia onde a população está a envelhecer mais depressa.
De acordo com os dados do INE, o índice de envelhecimento aumentou, em dez anos, de 45 para 103 idosos por cada 100 jovens.

O envelhecimento da população implica desafios económicos, orçamentais e sociais, agravando o crescimento da despesa pública e podendo colocar em risco a sustentabilidade a longo prazo das finanças dos países. O actual panorama demográfico e as suas consequências no sistema social, obrigam à reconsideração do papel atribuído aos idosos no contexto da sociedade da informação. Promover a qualidade de vida numa etapa em que o declínio físico é incontornável, implica considerar critérios multidimensionais, como a manutenção de redes sociais e de actividades físicas e mentais significativas e adequadas a esta nova fase da vida.

Assim, a APDSI prepara-se para realizar uma série de ateliers práticos denominados "Oficinas Sénior para a Web 2.0". A iniciativa, a decorrer na própria sede da Associação, insere-se no quadro do Ano Mundial do Voluntariado. O objectivo é contribuir para o desenvolvimento de competências básicas para o uso de ferramentas Web 2.0, adaptadas ao público sénior, procurando oferecer condições para melhorar a qualidade de vida e a participação social deste segmento da população.

Mas para que as "Oficinas Sénior" permitam uma verdadeira aquisição de conhecimentos, é essencial a participação de sócios que assegurem a dinamização destes espaços, criando ambientes de aprendizagem inter-geracionais e solidários em prol do desenvolvimento de uma sociedade da informação cada vez mais inclusiva.
Contacte o Secretariado da APDSI, fornecendo os seus dados pessoais: secretariado@apdsi.pt

quarta-feira, 9 de março de 2011

O que mais gostei no discurso de posse do Presidente da República

Discurso de verdade
...só um diagnóstico correcto e um discurso de verdade sobre a natureza e a dimensão dos problemas económicos e sociais que Portugal enfrenta permitirão uma resposta adequada, quer pelos poderes públicos quer pelos agentes económicos e sociais e pelos cidadãos em geral. A informação objectiva sobre a situação económica e social do País é um bem público que beneficia a sociedade no seu conjunto, porque estimula comportamentos favoráveis à resolução das dificuldades.
Os indicadores conhecidos são claros. Portugal vive uma situação de emergência económica e financeira, que é já, também, uma situação de emergência social, como tem sido amplamente reconhecido.
... Portugal está hoje submetido a uma tenaz orçamental e financeira – o orçamento apertando do lado da procura e o crédito apertando do lado da oferta. Este quadro afectará negativamente o crescimento económico e a qualidade de vida das famílias, a não ser que os responsáveis políticos, económicos e financeiros correspondam, com firmeza e sem ambiguidades, à obrigação que têm de libertar o país desta situação

Empreendedorismo livre e independente
Portugal precisa de uma nova vaga de empreendedores. Empreendedores com autonomia do poder político, que não esperem qualquer tipo de protecção ou de favores, cidadãos empenhados na qualidade e na inovação, dispostos a assumir riscos e a competir no mercado global.

Mobilização da sociedade civil
A nossa sociedade não pode continuar adormecida perante os desafios que o futuro lhe coloca. É necessário que um sobressalto cívico faça despertar os Portugueses para a necessidade de uma sociedade civil forte, dinâmica e, sobretudo, mais autónoma perante os poderes públicos.
O País terá muito a ganhar se os Portugueses, associados das mais diversas formas, participarem mais activamente na vida colectiva, afirmando os seus direitos e deveres de cidadania e fazendo chegar a sua voz aos decisores políticos. Este novo civismo da exigência deve construir-se, acima de tudo, como um civismo de independência face ao Estado.
Em vários sectores da vida nacional, com destaque para o mundo das empresas, emergiram nos últimos anos sinais de uma cultura altamente nociva, assente na criação de laços pouco transparentes de dependência com os poderes públicos, fruto, em parte, das formas de influência e de domínio que o crescimento desmesurado do peso do Estado propicia.
É uma cultura que tem de acabar. Deve ser clara a separação entre a esfera pública das decisões colectivas e a esfera privada dos interesses particulares.
Os cidadãos devem ter a consciência de que é preciso mudar, pondo termo à cultura dominante nas mais diversas áreas. Eles próprios têm de mudar a sua atitude, assumindo de forma activa e determinada um compromisso de futuro que traga de novo a esperança às gerações mais novas.
É altura dos Portugueses despertarem da letargia em que têm vivido e perceberem claramente que só uma grande mobilização da sociedade civil permitirá garantir um rumo de futuro para a legítima ambição de nos aproximarmos do nível de desenvolvimento dos países mais avançados da União Europeia.
Esta é uma tarefa de todos, cada um tem de assumir as suas próprias responsabilidades. É essencial que exista uma união de esforços, em que cada português se sinta parte de um todo mais vasto e realize o quinhão que lhe cabe.

Prestigiar a Função Pública
O exercício de funções públicas deve ser prestigiado pelos melhores, o que exige que as nomeações para os cargos dirigentes da Administração sejam pautadas exclusivamente por critérios de mérito e não pela filiação partidária dos nomeados ou pelas suas simpatias políticas.

Apelo aos jovens
… faço um vibrante apelo aos jovens de Portugal: ajudem o vosso País!
Façam ouvir a vossa voz. Este é o vosso tempo. Mostrem a todos que é possível viver num País mais justo e mais desenvolvido, com uma cultura cívica e política mais sadia, mais limpa, mais digna. Mostrem às outras gerações que não se acomodam nem se resignam.
Sonhem mais alto, acreditem na esperança de um tempo melhor. Acreditem em Portugal, porque esta é a vossa terra. É aqui que temos de construir um País à altura das nossas ambições. Estou certo de que, todos juntos, iremos vencer.


Achei um discurso mobilizador para os idealistas e inconformados que acham que ainda há muito a fazer para encher o copo e provocatório para quem acha que o copo está cheio e não há mais nada a fazer para melhorar a situação do nosso país.

segunda-feira, 7 de março de 2011

8º Encontro da PASC - O Papel Estratégico da Sociedade da Informação no Desenvolvimento Económico e Social de Portugal



A Plataforma Activa da Sociedade Civil (PASC) e a Associação para a Promoção e Desenvolvimento da Sociedade de Informação (APDSI) organizaram, em parceria, um encontro para debater a importância estratégica da Sociedade da Informação e do Conhecimento no desenvolvimento económico e social de Portugal.

O professor de Jornalismo Online da Universidade Lusófona e moderador da primeira parte do debate, José Vítor Malheiros, a representante da PASC, Maria Perpétua Rocha, o professor João Álvaro Carvalho, da Universidade do Minho, o economista e especialista em sociedade da informação, Jaime Quesado e o Dr. Luís Vidigal, membro da direcção da APDSI, foram os convidados deste 8º encontro da PASC.

O debate foi marcado pelos recentes acontecimentos, envolvendo os vários quadrantes da sociedade civil, como é o caso da influência da plataforma de rede social Facebook na queda do presidente do Egipto, Hosni Mubarack, a venda de músicas online, os novos modelos de negócio, a problemática da administração pública e a burocracia electrónica, bem como a inteligência competitiva dos recursos humanos em ciência e tecnologia.

No séc. XX a informação é a palavra de ordem

João Álvaro Carvalho começou por estabelecer uma comparação entre a “revolução” do século XVIII, quando surgiram o que designou por “amplificadores das capacidades físico-motoras”, com a do século XX, marcada pelo aparecimento dos “amplificadores das capacidades intelectuais”, dando maior protagonismo à informação. «Temos que nos habituar a esta nova sociedade. O suporte e a distância, hoje em dia, não são importantes. O consumidor passa, também, a ser produtor de informação em larga escala e os blogues são bem o exemplo disso. Isto trará os seus problemas... hoje em dia qualquer amador com acesso à Internet publica o que quer que seja e muitas vezes encontramos maus trabalhos publicados, porque qualquer um o pode fazer», disse o professor.

Este novo papel da sociedade da informação tem, no entanto, consequências derivadas do paradigma das novas proximidades, como alertou João Álvaro Carvalho: «Esta abundância de computação, memória, largura de banda e dispositivos móveis, veio trazer-nos uma nova forma de ver e de estar no mundo. Agora importam os serviços personalizados, os talentos individuais e é aqui que as grandes empresas encontram nichos de mercado. Aquilo que fazemos vai estar algures na Web, há maior transparência, o que também levanta novas questões de ética, como por exemplo, em quem podemos confiar?».

Quanto ao impacto que as novas tecnologias de informação e comunicação podem vir a ter no mercado de trabalho, o professor considera que a economia vai ter de saber lidar com o hábito instaurado de não termos de pagar pela informação que está online, o que vai obrigar as pessoas a terem de se especializar numa sociedade de criatividade, de talento e empreendedorismo.

Administração Pública – a inimiga da sociedade?

O Dr. Luís Vidigal podia muito bem ter ganho o prémio da comunicação mais animada deste encontro: o seu power point com imagens coloridas a exibirem uma República bem rechonchuda (representando o peso que constrange, limita e inibe) deu-nos alguns dados surpreendentes sobre os investimentos que têm sido feitos ao nível governamental e que, ainda, não conseguiram atingir a tão desejada “interoperabilidade”. «O papel continua a fazer parte da sociedade. A burocracia electrónica, que ainda existe, tem que dar lugar a uma colaboração digital; tem que se deixar de Imprimir para se passar a Enviar. O papel surge sempre criando o paradoxo da improdutividade. Continuamos a ter o paradigma do papel e das máquinas» destacou, sobre o desafio da colaboração digital.

Luís Vidigal mencionou alguns dados estatísticos que mostram Portugal entre os quatro países com maior sofisticação de serviços, mas alertou para o muito que ainda há a melhorar. «Não podemos ficar satisfeitos porque estamos no topo nalgumas coisas. Ainda se verificam muitos problemas de desintegração de sistemas, conflitos de poder, falta de digitalização... construímos castelos, a informação ainda é vertical e não horizontal, mesmo quando a intenção é estar-se voltado para o cidadão. Os sistemas não falam uns com os outros, não colaboram entre si. Uma visão agregadora tem que ser permanente e sincronizada para não haver momentos de aceleração de processos e outros em que é inevitável assistirmos a um retardar e prescrever do processo», referiu.

Para Luís Vidigal as certidões são, de um modo geral, inúteis e podem praticamente ser substituídas por bits porque as tecnologias da informação “conseguem de facto ajudar a tornar transparente o Estado”: «A interoperabilidade entre ministérios e processos, mais do que a tecnológica, é feita por pessoas que têm de cooperar. É preciso falar a mesma língua para que as pessoas possam comunicar entre si», concluiu.

Sociedade do Conhecimento = Sociedade das Oportunidades

O economista Jaime Quesado começou por apontar a falta de eficiência da Justiça no que toca à aplicação das tecnologias de informação, citando, para isso, estatísticas que apontam para uma posição, do ponto de vista de recursos humanos em ciência e tecnologia no nosso país, ainda muito aquém da média europeia.

Contudo, a intervenção do especialista valorizou a importância da inteligência competitiva, nos dias que correm, ou seja, os recursos humanos devem ser mais competentes em ciência e tecnologia: «A sociedade do conhecimento é uma área muito transversal mas, sobretudo, é um acto de colaboração. A “competição com cooperação” dá lugar à chamada “coopetição” que virá trazer novas oportunidades». Outros dados relevantes apresentados foram relativos à capacidade do Estado para ser uma entidade eficiente. Dados esses que revelam valores baixos na confiança que o Estado inspira actualmente aos cidadãos.

Para Jaime Quesado as novas tecnologias de integração operacional só fazem sentido se tiverem uma aplicação do ponto de vista social. O economista explicou que a coesão social deve mover os valores pelos quais se pauta a sociedade do conhecimento. «Os milhões gastos recentemente em Portugal têm um balanço positivo. Portugal é um país de nova geração mas é preciso perceber que os progressos informáticos não aceleram a coesão social. Há uma parte da sociedade que não tem facilitado o acesso a esses instrumentos. A sociedade do conhecimento é, acima de tudo, um acto de colaboração», salientou o economista.

Conclusão

Em conclusão, o professor Dias Coelho, presidente da direcção da APDSI, disse que o contributo da Sociedade da Informação e do Conhecimento para o desenvolvimento económico e social de Portugal está em todo o lado: «As empresas precisam da utilização intensiva das tecnologias porque é por essa via que chegam à informação. Por outro lado, reconheceu que a sociedade também recorre aos mesmos instrumentos para o entretenimento».

O 8º Encontro da PASC, em parceria com a APDSI, para debater o Papel Estratégico da Sociedade da Informação no Desenvolvimento Económico e Social de Portugal, realizou-se no passado dia 2 de Março, na Sala do Senado, na Reitoria da Universidade Nova de Lisboa (Campus de Campolide).