Para quem conhece a visão e aquilo que o Luís Vidigal pensa, defende e tem partilhado connosco nestes últimos anos, este documento caracteriza, de forma sintética, o que muitos de nós já reflectiram.
Salvo raras excepções estaremos, em princípio, todos de acordo com o que o Luís decidiu escrever, chamando nomes, como se costuma dizer, aos ditos "animais".
Faço este ano, 21 anos de experiência profissional nas TIC (iniciei carreira no tempo da máquina de escrever electrónica e no boom do fax), com experiência acumulada nos últimos anos na consultoria e gestão de projectos nos mercados da Administração Pública e da Saúde.
Custa-me assistir a atitudes e a comportamentos que julgava abandonados e até ultrapassados.
Para além do problema estratégico que o Luís refere, um exemplo que penso ser muito crítico, nesta nova década que começa, diz respeito às compras públicas.
Existe vasta tecnologia e soluções de negócio disponíveis no mercado. Foi realizado no final de 2009 um Acordo-Quadro para fornecimento de software (AQ 11-LS) que levou um ano a decidir (concorreram 80 empresas).
Por razões meramente administrativo-jurídicas (o juri decidiu excluir empresas por não terem part-number???), tomemos como exemplo o seguinte caso prático e como funciona a visão e o controlo em vigor desde 1999 para controlar os custos na despesa pública para software.
Foi criado um Grupo 2 – Software de Desenvolvimento. Nele existem vários lotes. Dá-me jeito escolher o lote de Sistemas de Reporting e de suporte à decisão.
Alguém acredita que num processo de qualificação recente, apenas 1 integrador de sistemas reúne capacidade (corporativa, tecnológica e de negócio) reconhecida pelo fabricante que lhe dá suporte à venda?
Pois podem crer que assim é. Numa primeira fase, os organismos ficam perdidos na escolha da vasta lista de empresas que foram seleccionadas e, como se não bastasse, é depois o fabricante que perante 20 ou mais empresas que podem vender a sua tecnologia, diz claramente, a quem é que deve ser comprado o software porque aos outros não lhes reconhece capacidade nem lhes dá suporte se algo correr mal. Pergunta-se neste contexto.
Que estão lá a fazer mais de 60 empresas listadas no AQ 11-LS e que têm “autorização” para vender software nos lotes respectivos, em exclusivo, ao Estado durante… anos?
Na prática, o Estado é confrontado, todos os dias, com a venda autorizada e legal de “upgrades” que são possíveis fazer sem concurso público e não se encontram licenciados pelo AQ 11-LS. O truque é o seguinte.
O fabricante que está autorizado a fornecer no lote respectivo informa, a empresa concorrente e o comprador, que houve uma evolução ou versão nova do software que existia em 2008.
Entretanto a versão de software anterior foi descontinuada, novas empresas foram compradas pelo fabricante, entre outras combinações de mercado!
O que é válido para o Estado comprar é o facto do fabricante estar admitido na ANCP através de inúmeras empresas concorrentes e não o contrário, ou seja, ter sido seleccionado pela sua marca, oferta, competência e suporte local.
Ficamos todos na dúvida. Se existisse um CIO, será que se evitaria, citando o Luís Vidigal, ao facto de todos os dias "...assistirmos no Estado à compra deslumbrada e fácil de soluções tecnológicas, que logo de seguida andam à procura dos problemas reais que justifiquem a despesa anteriormente feita de forma precipitada"?
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Para quem conhece a visão e aquilo que o Luís Vidigal pensa, defende e tem partilhado connosco nestes últimos anos, este documento caracteriza, de forma sintética, o que muitos de nós já reflectiram.
Salvo raras excepções estaremos, em princípio, todos de acordo com o que o Luís decidiu escrever, chamando nomes, como se costuma dizer, aos ditos "animais".
Faço este ano, 21 anos de experiência profissional nas TIC (iniciei carreira no tempo da máquina de escrever electrónica e no boom do fax), com experiência acumulada nos últimos anos na consultoria e gestão de projectos nos mercados da Administração Pública e da Saúde.
Custa-me assistir a atitudes e a comportamentos que julgava abandonados e até ultrapassados.
Para além do problema estratégico que o Luís refere, um exemplo que penso ser muito crítico, nesta nova década que começa, diz respeito às compras públicas.
Existe vasta tecnologia e soluções de negócio disponíveis no mercado. Foi realizado no final de 2009 um Acordo-Quadro para fornecimento de software (AQ 11-LS) que levou um ano a decidir (concorreram 80 empresas).
Por razões meramente administrativo-jurídicas (o juri decidiu excluir empresas por não terem part-number???), tomemos como exemplo o seguinte caso prático e como funciona a visão e o controlo em vigor desde 1999 para controlar os custos na despesa pública para software.
Foi criado um Grupo 2 – Software de Desenvolvimento. Nele existem vários lotes. Dá-me jeito escolher o lote de Sistemas de Reporting e de suporte à decisão.
Alguém acredita que num processo de qualificação recente, apenas 1 integrador de sistemas reúne capacidade (corporativa, tecnológica e de negócio) reconhecida pelo fabricante que lhe dá suporte à venda?
Pois podem crer que assim é. Numa primeira fase, os organismos ficam perdidos na escolha da vasta lista de empresas que foram seleccionadas e, como se não bastasse, é depois o fabricante que perante 20 ou mais empresas que podem vender a sua tecnologia, diz claramente, a quem é que deve ser comprado o software porque aos outros não lhes reconhece capacidade nem lhes dá suporte se algo correr mal. Pergunta-se neste contexto.
Que estão lá a fazer mais de 60 empresas listadas no AQ 11-LS e que têm “autorização” para vender software nos lotes respectivos, em exclusivo, ao Estado durante… anos?
Na prática, o Estado é confrontado, todos os dias, com a venda autorizada e legal de “upgrades” que são possíveis fazer sem concurso público e não se encontram licenciados pelo AQ 11-LS. O truque é o seguinte.
O fabricante que está autorizado a fornecer no lote respectivo informa, a empresa concorrente e o comprador, que houve uma evolução ou versão nova do software que existia em 2008.
Entretanto a versão de software anterior foi descontinuada, novas empresas foram compradas pelo fabricante, entre outras combinações de mercado!
O que é válido para o Estado comprar é o facto do fabricante estar admitido na ANCP através de inúmeras empresas concorrentes e não o contrário, ou seja, ter sido seleccionado pela sua marca, oferta, competência e suporte local.
Ficamos todos na dúvida. Se existisse um CIO, será que se evitaria, citando o Luís Vidigal, ao facto de todos os dias "...assistirmos no Estado à compra deslumbrada e fácil de soluções tecnológicas, que logo de seguida andam à procura dos problemas reais que justifiquem a despesa anteriormente feita de forma precipitada"?
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