Professora Maria Helena Monteiro
A APDSI realizou, a 23 de março de 2016, mais uma edição da conferência intitulada “As TIC e a Saúde no Portugal de Hoje”, no Auditório do Centro Hospitalar Psiquiátrico de Lisboa, na Av. Brasil, sob a coordenação da Prof. Doutora Maria Helena Monteiro e da Prof. Doutora Ana Maria Evans. O evento reuniu especialistas das duas áreas em questão, bem como representantes de diversas instituições de saúde, públicas e privadas.
Na sessão de abertura, a professora Maria Helena Monteiro lembrou que «as TIC fazem parte da mudança que está a verificar-se na saúde». O foco da conferência, afirmou, «passa pela necessidade da participação do Estado, instituições públicas e privadas, academia e entidades financiadoras nesta aliança entre TIC e Saúde».
Manuel Delgado | Secretário de Estado da Saúde: Utentes no centro das atenções do SNS
Na conferência da APDSI, o Secretário de Estado da Saúde, Manuel Delgado, apresentou as mudanças «fundamentais» que o Governo pretende executar com o objetivo primordial de colocar o utente no centro das atenções do Serviço Nacional de Saúde. Anular barreiras no acesso ao Serviço Nacional de Saúde e promover medidas para cidadãos mais vulneráveis são outras das medidas que o Estado pretende levar a cabo nos próximos tempos. A racionalização de custos e diminuição de burocracia também está prevista, explicou Manuel Delgado, que também falou na hierarquização entre níveis de cuidados de saúde, dando ao utente a liberdade de escolha dentro do SNS. Isto significa que o cidadão pode querer ser socorrido em determinado hospital, em detrimento de outro. A novidade depende muito das TIC na medida em que tem de ser feita a disponibilização de informação pública sobre tempos de espera previstos, por exemplo, além de outros dados de referência sobre os centros de atendimento.
Outro dos exemplos apresentado na conferência passa pela redução de taxas moderadoras aos utentes que optem por recorrer aos sistemas prévios de triagem, como a linha “Saúde 24”, antes de se deslocarem aos hospitais. O Secretário de Estado aproveitou o exemplo para anunciar a abertura de um concurso público para um novo centro de contacto. Estão ainda previstas mudanças na saúde oral, visual e na medicina física de reabilitação, que vão ser integradas dentro dos cuidados primários de saúde, estando, ainda, prevista a contratação de médicos aposentados «para que todos tenham médicos de família, mas é uma situação transitória, apenas a ter lugar durante dois anos», conclui Manuel Delgado.
Henrique Martins | SPMS - Serviços Partilhados do Ministério da Saúde: volume de receitas eletrónicas emitidas está a aumentar
Henrique Martins, dos Serviços Partilhados do Ministério da Saúde, começou por comunicar e congratular-se pelo aumento do volume de emissões das e-receitas: «Ontem foi atingido um marco importante: 10% de receitas emitidas eletronicamente, sem papel, num só dia». O próximo grande objetivo dos SPMS passa por fazer um resumo europeu do doente e torná-lo internacional. A medida é inspirada nos mais de 25% de acessos ao portal do utente que vêm de cidadãos que estão fora de Portugal. «É preciso garantir que os portugueses que viajam têm acesso à informação sobre a sua saúde; isto é algo estratégico para a formação de responsabilidade e uma necessidade, além de uma oportunidade de inovação para aquilo que fazemos em Portugal», afirmou Henrique Martins.
Na sua apresentação foi também anunciado que, depois de dois anos de trabalho, Portugal tem desde janeiro um Chapter HL7: «É a criação de um grupo de pessoas distanciado da SPMS que vai propugnando com a indústria, a academia e agências governativas, a adoção do HL7», explicou.
O HL7 refere-se a um conjunto de normas internacionais para a representação e a transferência de dados clínicos e administrativos entre sistemas de informação em saúde, tais como em clínicas, consultórios, hospitais e sistemas de saúde pública.
José Carlos Nascimento | Gabinete do Ministro da Saúde: Cinco temas para uma reflexão sobre TI na saúde
José Carlos Nascimento relacionou, de forma original, cinco oportunidades e desafios que misturam TIC com a saúde. O professor, que anunciou a sua saída do Ministério da Saúde no fim de março, usou a sigla da APDSI para falar de (A)rquitetura, (P)articipação, (D)eployment, (S)erviços e (I)ndústria.
Sobre arquitetura, José Carlos Nascimento reconhece a importância da arquitetura de estratégias no traçar de um plano a longo prazo: «Ter uma nova estratégia todos os anos e ausência de um plano de continuidade, é de evitar. A estratégia deve ser pensada a uma década ou mais com consensos em arquiteturas tecnológicas, infraestruturas e aplicações, fluxos de informação e arquitetura de informação». Para o responsável deve haver uma clarificação das diversas funções que o Estado assume, separando a função de autoridade e regulação, da função de entrega de serviços e produtos, enquanto defende que a saúde tem de refletir a multiplicidade de agentes envolvidos.
A participação de profissionais das TI e da medicina é vista como fundamental para o professor que lamenta que os profissionais das tecnologias fiquem, muitas vezes, de fora do processo decisivo.
No que concerne ao deployment, o responsável procurou fugir à crítica direta mas não evitou falar dos problemas que, em seu entender, se estão a gerar devido à desatualização de vários sistemas. «Mais do que prometer é preciso fazer. Dar resposta aos sistemas de informação básicos é fundamental porque é algo que nos responsabiliza a todos», sublinhou.
Quanto aos serviços em saúde, José Carlos Nascimento referiu a importância da telemedicina como «uma das grandes oportunidades das TIC em soluções que vão até às populações, que saem das paredes dos hospitais e levam os serviços para junto dos cidadãos». As tecnologias surgem, neste enquadramento, como um dos fatores que proporcionam poupança através de um novo apoio domiciliário de proximidade que pode vir a ajudar o cidadão idoso e fragilizado.
Finalmente, sobre indústria e internacionalização, ficou a certeza da competitividade do nosso serviço empresarial. «O futuro dos sistemas de informação da saúde em Portugal será aquilo que o mercado e as empresas conseguirem desenvolver», concluiu.
Produtos e serviços na área da saúde
Como habitualmente acontece, na edição deste ano da conferência “As TIC e a Saúde no Portugal de Hoje”, houve espaço para a apresentação de casos de sucesso de empresas e serviços na área das TIC e Saúde.
Eduardo Vigil Martín, da Everis, fez uma inspiradora apresentação onde sublinhou que a empresa está a trabalhar “com” os médicos e não “para” os médicos, tendo por referência o princípio da criação e utilização de uma boa base de dados.
Leonor Silva e Almeida, da Deloitte, demonstrou que os doentes estão cada vez mais informados e mais exigentes com a saúde, o que sustentou a importância que prevê ser crescente (até 2020) das aplicações mobile voltadas para a saúde. Futuramente, todos esses dados serão, em seu entender, transformados em informação útil.
Paulo Sousa, da Maxdata Software, apresentou o caso de sucesso da empresa na unificação laboratorial que foi feita nos Açores envolvendo três hospitais, um centro de oncologia e 17 centros de saúde.
Rui Raposo, da José de Mello Saúde SGPS, apresentou dados que reforçam o objetivo do grupo de saúde privado: excelência clínica a preços acessíveis.
João Mota Lopes, da Oracle Portugal, mostrou como a empresa tem olhado para as tecnologias enquanto elemento que pode proporcionar mais afeto aos utentes e melhorar a relação entre médico e paciente: «A tecnologia que o permite existe hoje e em qualquer sistema de saúde».
Rui Henriques, da Glintt Healthcare Solutions, lembrou que há aplicações que o cidadão vai querer começar a utilizar para integrar o seu próprio processo clínico, naquela que virá a ser uma transformação de dados em informação: «Não nos podemos esquecer que os informáticos também fazem parte da medicina».
Rosália Rodrigues, da Microsoft, afirmou que a marca quer melhorar a colaboração entre todos e integrar a experiência dos utentes com os serviços de saúde, nomeadamente no trabalho que está a ser desenvolvido no âmbito da videoconferência entre médicos e acamados.
Ângela Brandão, da PRIMAVERA BSS, trouxe ao público da conferência da APDSI soluções especializadas para o setor da saúde e os casos de sucesso que obteve no Grupo Luz Saúde e Saudaçor.
Daniel Silva, da Quidgest, demonstrou como os produtos que a empresa disponibiliza podem ser uma boa solução para compras, aprovisionamento e gestão de existências. «80% dos erros encontrados nos processos estão no aprovisionamento», diz Daniel Silva.
Rogério Gaspar, da Universidade de Lisboa, mostrou como o futuro se vai relacionar com o mote fundamental da EITHealth, através de um crescente interesse em “health living and active ageing”. A HeartGenetics é uma Startup, apresentada na conferência por Ana Teresa Freitas. A HeartGenetics desenvolve soluções na área da biotecnologia, ou seja, equipamento que ajuda a definir terapêuticas com base na genética, através da combinação de um kit + software.
Filipe Cardoso, da Magnomics, trouxe ao público da APDSI uma novidade em matéria de saúde pública e animal. Através da rápida identificação de bactérias (atualmente o processo demora um a dois dias), a Magnomics recolhe informação sobre uma eventual contaminação que passa a estar num chip: «É um dispositivo rápido, portátil, que pode ser usado mesmo por quem não tem grandes aptidões informáticas, deteta um painel de múltiplas bactérias e é mais acessível em termos de custos».
Patrícia Calado, do GPPQ - Gabinete de Promoção do Programa Quadro de I&I (Investigação & Inovação) da União Europeia, deu uma visão otimista sobre o financiamento para eHealth, no âmbito do Horizonte 2020, ao sublinhar que há 160 milhões de euros para atribuir em eHealth no período 2016-2017 que, face aos mais recentes desafios societais, com o empowerment do doente e aposta no envelhecimento saudável, constituirão um investimento desejável. Para 2016-2017, a especialista explicou que o foco da Comissão Europeia está na inovação e impacto, em produtos e serviços que ponham o ênfase nos consumidores finais e nos ensaios clínicos.
Luís Drummond Borges, da AdvanceCare, apresentou a empresa cujo quadro é composto por médicos e consultores especializados: «A AdvanceCare olha para a saúde de uma forma integrada».
Já José Pina, da Saúde Prime, referiu-se ao facto de esta ser uma plataforma de capital português com mais de 12 anos de experiência na área da saúde, na qual foi criado «um conceito de seguro para todos. Não temos um problema de acesso, temos um problema de financiamento».
Na sessão de encerramento, Sara Carrasqueiro, dos SPMS - Serviços Partilhados do Ministério da Saúde, falou sobre o programa nacional de eHealth que pretende conseguir «a melhor cooperação entre todas as partes interessadas na saúde em Portugal». Empresas, hospitais e universidades fazem parte da estratégia nacional de eHealth de devem colaborar entre si, concluiu.
A conferência realizou-se na quarta-feira, dia 23 de março, no Auditório do Centro Hospitalar Psiquiátrico de Lisboa. A APDSI realiza estas conferências dedicadas à saúde desde 2004.