Chamath Palihapitya e Ricardo Vice Santos
O Roger é uma aplicação, que surgiu no final do ano passado em iOS, e está, desde o dia 1 de março, disponível também para android. O serviço funciona como uma espécie de walkie-talkie ou uma modalidade de sms faladas e foi desenvolvido por dois dos profissionais que estão por detrás do Spotify: Andreas Blixt e Ricardo Vice Santos.
O Ricardo é português, estudou na escola secundária de Faro, e foi em 2005, quando tinha apenas 19 anos, que venceu as Olimpíadas Nacionais de Informática da APDSI. Nesse tempo já era apaixonado por programação, o que o levou a fazer a licenciatura em Engenharia Informática e Computação, no Instituto Superior Técnico de Lisboa.
A ideia para a aplicação surgiu da necessidade de ter conversas curtas, rápidas, que dispensem a atenção de um teclado, mas com a emoção de que as mensagens escritas estão desprovidas. A app funciona através do número de telemóvel e, se for necessário contactar alguém que ainda não a use, isso também é possível porque o destinatário recebe uma mensagem com um link para ouvir e para instalar o Roger.
A aplicação é gratuita e tem obtido feedbacks muito positivos, vindos de mais de 120 países, onde Ricardo Vice Santos tem ouvido relatos de conversas que duram longas horas e que se desenrolam no Roger.
A oportunidade de negócio surgiu, no entanto, quando Ricardo Vice Santos se cruzou com Chamath Palihapitya (um dos homens fortes de Mark Zuckerberg, no Facebook), e conseguiu, em 25 segundos, mais de 900 mil euros para fazer crescer a app.
Numa altura em estão a decorrer as inscrições para a edição de 2016 das Olimpíadas Nacionais da Informática, Ricardo Vice Santos aceitou falar à APDSI sobre o nascimento do Roger e recordar a sua vitória neste desafio há 11 anos. A entrevista decorreu durante três dias e foi feita, na íntegra, usando o Roger.
Ricardo, como é que lhe surgiu esta ideia de criar o Roger? Ou devemos dizer “a” Roger (app)?
O Roger é o serviço, a Roger a empresa. A ideia surgiu quando, num certo dia, eu estava a ir, à pressa, para o metro de Nova Iorque. Estava a mandar uma mensagem a um amigo, a olhar para o telemóvel, e bati num poste, enquanto escrevia. Fiquei frustrado e disse ao meu co-founder [Andreas Blixt] que queria fazer algo que substituísse as chamadas mas não queria um outro tipo de messenger, com teclas pequenas… queria algo mais fácil e que a pessoa usasse sem ter que ter uma mão disponível. O Roger levou-me a falar mais com os meus amigos e começamos a pensar as mensagens de uma maneira diferente. Eu não gosto muito do mundo todo ensaiado, como fazemos nos e-mails, por exemplo. Num e-mail eu penso muito no que a outra pessoa vai achar, no que vai perceber. É verdade que temos mais controlo sobre a mensagem mas perdemos alguma humanidade, casualidade e a intimidade que queremos ter com pessoas amigas. O Roger está a tentar que as pessoas falem mais umas com as outras e de forma mais humana.
Já teve algum feedback mais marcante? Aquele que o tenha feito ter a certeza de que estava a mexer positivamente com a vida das pessoas?
Temos muitos exemplos marcantes. Houve pessoas que já estava um pouco mais à espera de atrair, como gente que tem famílias noutros países, noutras time zones, mas fiquei muito impressionado com o relato de pessoas cegas e com dificuldades motoras que começaram a usar o Roger por ser muito simples e claro que essas têm sido boas surpresas.
Estando o Ricardo em Nova Iorque temos que lhe perguntar, como e onde foi celebrar a conquista dos 900 mil euros para desenvolver a app?
Para ser completamente honesto por acaso não celebrei muito mas isso tem um bocado mais a ver com a minha maneira de ser… normalmente quando alcanço uma etapa qualquer, como neste caso, ponho-me a pensar em qual é a próxima etapa. Obviamente que fiquei bem disposto quando o investimento chegou, mas basicamente a primeira coisa que fiz foi virar-me para o Andreas Blixt e dizer: “Ok, agora temos que investir porque ninguém nos deu dinheiro para o termos no banco”; quando alguém investe numa startup a ideia não é manter o dinheiro por muito tempo, é investir e arriscar bastante de forma a obter retorno. Nessa altura não festejámos, simplesmente demos um abraço e pensámos “ok, vamos ao trabalho”.
O Ricardo venceu as Olimpíadas da Informática em 2005. Que memórias guarda desse dia? Que palavras de incentivo daria aos alunos que, este ano, se preparam para concorrer?
Guardo bastantes memórias das consequências do dia. Houve uma altura em que, depois de ter ganho as Olimpíadas da Informática e ter estado no Instituto Superior Técnico um ano, uma das motivações que tive foi precisamente a de ter ganho as ONI, foi o que me deu a confiança de que, de certa forma, podia ser bom naquilo que era importante para a minha vida. Ainda hoje me orgulho muito de ter ganho, pela confiança que isso me transmitiu. Lembro-me também de ter conhecido gente muito interessante. Eu era o único do Algarve que participava nessas coisas e isso permitiu-me conhecer muitas pessoas de outros pontos do país.
O incentivo que deixo aos alunos é que pensem bem nos problemas, que os desconstruam. Eu, normalmente, antes de fazer uma linha de código sequer, tentava escrever primeiro no papel o problema e o que queria fazer. Isso leva-me a partir para o código já mais focado. Desejo a todos boa sorte e que consigam resolver mais do que um problema.
Que futuro perspetiva para o Roger?
O nosso objetivo, de momento, é melhorar a aplicação. Já lançamos versão android, que é crucial na nossa missão de pôr o mundo falar mais; esse é o nosso objetivo: o nosso sucesso vai ser medido no quanto vamos conseguir pôr as pessoas a falarem mais umas com as outras. Há muitas oportunidades que queremos experimentar, ideias não faltam, o que nos falta agora é tempo mas estamos a trabalhar de dia e de noite para isso.
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