A Secretária de Estado da Justiça, Anabela Pedroso, esteve hoje na sessão de abertura da conferência da APDSI - Associação para a Promoção e Desenvolvimento da Sociedade da Informação - intitulada “e-Government 2017 - A transformação digital do Estado e o desenvolvimento da Sociedade”.
Uma das primeiras questões levantadas pela representante do Governo prende-se com a pertinência do trabalho desenvolvido pelos departamentos de informática da Administração Pública e na forma como estão a acompanhar a mudança da sociedade, ou seja, como é que os backoffices estão a corresponder às exigências de frontoffice. Com o avanço das tecnologias a ocorrer de forma extremamente rápida, é preciso assegurar a integração confortável dos utilizadores nos sistemas desenvolvidos pelos profissionais da área, evitando o conflito.
Como bom exemplo de transformação digital no Estado, Anabela Pedroso apontou o “Tribunal +” onde, após uma sequência de mecanismos adaptados da metodologia Kaisen (de melhoria contínua de processos), foi conseguida uma redução na ordem dos 60% no número de cidadãos a circularem no interior dos tribunais e no volume de papel utilizado.
Delfina Sá Soares, da Universidade das Nações Unidas, lembrou que o mundo ainda corre a dois tempos em matéria de novas tecnologias e que, os mais desenvolvidos, já pensam no bem estar da sociedade para 2030. «Estamos a ser confrontados com o aparecimento de novas tecnologias e com experiências que não conhecemos bem mas que podem ter imenso potencial na administração pública, como por exemplo as blockchains», sublinha a professora.
Quanto ao OGD - Open Government Data, Delfina Sá Soares lamenta que ainda seja pouco usado para «explorar os dados através das tecnologias de data analytics» e acredita que tal se deve às questões de privacidade e segurança do cidadão que ainda olha para este fenómeno com alguma desconfiança: «Até agora a maior parte dos países ainda só teve custos com o OGD». O cidadão deve, no entender da professora, ser o elo condutor do design e da produção de serviços para que, no final, se obtenha aquilo que a população realmente deseja.
Luís Borges Gouveia, da Universidade Fernando Pessoa, ressalvou a importância das soft skills e da sensibilidade humana no mundo digital. Nas contratações para as TIC devem ser atendidos o saber fazer, ser e estar: «Quem estiver disponível para aprender é muito mais valorizado do que quem tem muitas competências técnicas que, a seguir, vão ser ultrapassadas». Atitude, talento e trabalho em equipa são, resumidamente, características que a Administração Pública deve passar a valorizar nos seus recursos humanos.
Da Universidade do Minho, Luís Amaral focou a sua apresentação nas assimetrias existentes internacionalmente e mesmo dentro de Portugal no acesso à Internet, o que obriga à salvaguarda de direitos e deveres na promoção da transformação digital.
Do lado da Administração Pública, André Vasconcelos, da AMA - Agência para a Modernização Administrativa, deixou uma perspetiva otimista da mudança que o Governo tem vindo a fazer «não só na disponibilização da oferta mas na utilização, na garantia de que os serviços estão a ser utilizados». Quantos aos desafios que ainda se colocam até 2020, é preciso assegurar uma transformação digital com forte aposta nos recursos humanos e, para isso, os «fundos comunitários são uma cenoura importante para alargar esta estratégia».
Henrique Martins, SPMS - Serviços Partilhados do Ministério da Saúde, referiu o portal da saúde como um dos mais visíveis marcos de sucesso de transformação tecnológica na área da saúde e ainda a recente criação de uma página de Facebook para o SNS. Já internamente, essa mudança está a encontrar algumas resistências: «Temos milhares de funcionários no SNS e é preciso mudar tudo o que andam a fazer. Tem sido um trabalho lento mas efetivo», salienta Henrique Martins.
O reforço de recursos humanos para 2020 é, no entender de Henrique Martins, «o que pode garantir o salto quântico na qualidade dos serviços disponibilizados». A privacidade dos dados não deve ser vista como um problema mas sim como uma oportunidade para o Estado garantir uma boa relação contratualizada e de confiança com o cidadão «fundamental para o sucesso do 2020 e das competências para o digital».
Da ESPAP - Entidade de Serviços Partilhados da Administração Pública IP, Jaime Quesado desafia o Estado a trabalhar mais em rede por forma a conseguir ter uma melhor capacidade de resposta dos serviços. «O Estado tem de fazer da inovação o seu mote para que a transformação digital realmente ocorra», ressalva. Sobre a perspetiva para 2020, Jaime Quesado nota que não há profissionais suficientes para fazerem face à procura atual na área das TIC.
Numa perspetiva de mercado, Carlos Lobo, da EY, entende que «um Governo mais eficiente e uma sociedade mais justa são os objetivos de intermediação entre o cidadão e a Administração Pública que é boa a criar modelos mas péssima na adaptação do backoffice à realidade». Uma opinião secundada por Fernando Reino da Costa, da Unipartner IT Services, que lembra a importância de se conhecerem bem os hábitos do cidadão «para se canalizarem estratégias e recursos de forma correta».
Joana Costa, da GFIPortugal, defende que o foco em qualquer processo de transformação digital são as pessoas e deu como exemplo interno a figura do Chief Innovation Officer que garante que a inovação serve o negócio da empresa.
Pedro Duarte, da Microsoft Portugal, lamenta que o Estado ainda não esteja a fazer o suficiente pelas competências digitais das gerações futuras: «Falta um enquadramento nacional e a disrupção é muito rápida». A inclusão e a literacia digital são as suas maiores preocupações.
No final da sessão foi feita a entrega do “Prémio APDSI e-Gov 2017”. O prémio foi atribuído à Autoridade Tributária e Aduaneira pelo “IRS Automático”. «Este prémio não é só das pessoas de 2017 mas sim de todas as que ao longo destes 20 anos levaram este barco para a frente», destacou Luís Vidigal, presidente da Direção da APDSI. A Menção Honrosa foi para o portal do Serviço Nacional de Saúde.
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