A APDSI, Associação para a Promoção e o Desenvolvimento da Sociedade da Informação, apresentou ontem o cenário "No Limiar da Autodeterminação da Inteligência Artificial?", no pequeno auditório da Culturgest, em Lisboa.
Este contexto agora apresentado vem na sequência do “Aprofundamento da era Digital - Um Cenário para 2030”, de 2016.
O cenário apresentado, que tanto cobre as opções mais desafiantes e otimistas como as mais assustadoras, sempre com a ressalva de que qualquer uma delas está dependente de fatores imprevisíveis, pretende fomentar o pensamento estratégico e gerar ideias. O trabalho, que está já disponível no sítio na web da APDSI, resulta de um processo criativo do Grupo “Futuros da Sociedade da Informação” (GFSI). O estudo não é apenas tecnológico e tem a preocupação do crescimento económico e da coesão social.
No cenário apresentado o grupo concluiu que as tendências que vão influenciar o futuro da Sociedade da Informação são económicas, políticas, societais, tecnológicas, legais e ambientais.
«Não há limites para o desenvolvimento tecnológico, podendo chegar-se ao limiar daquele que é hoje considerado um Ser Humano. Os humanos podem vir a ter tecnologias instaladas no corpo para beneficiarem de uma extensão significativa do seu tempo de vida. No entanto, o estado de desenvolvimento tecnológico e científico não é igual em todo o planeta, por isso, as implicações de futuro são meramente indicativas», descreveu o eng.º Francisco Tomé, do GFSI, a quem coube a apresentação do cenário.
No cenário do aprofundamento da Era Digital, o futuro pode ditar que se vão verificar mudanças “quantitativas” no desempenho das máquinas, que evoluem sem disrupção, registam-se avanços lineares e unidimensionais da Inteligência Artificial,e os algoritmos são concebidos por humanos que apenas marginalmente verão o seu tempo de vida aumentar.
Já no cenário do limiar da autodeterminação da Inteligência Artificial vamos assistir a mudanças qualitativas que vão constituir uma disrupção na evolução das tecnologias como a conhecemos; neste cenário não existem limites para o desenvolvimento das tecnociências, a “máquina inteligente” coexiste ou integra o humano (transhumanismo), assistimos a uma multidimensionalidade da Inteligência e a uma extensão generalizada do tempo de vida dos humanos o que virá a colocar questões éticas e filosóficas como: Quem sou eu? Onde é que estou? Onde é que me puseram? As mudanças demográficas, nesta vertente do cenário, virão acompanhadas de robôs como parte integrante da nossa rotina total e constantemente vigiada.
O fim da privacidade é, assim, uma tendência considerada incontornável em qualquer um dos futuros, bem como a lamentável perda da qualidade ambiental «porque, previsivelmente, os Governos vão continuar a priorizar a economia», anteviu Francisco Tomé.
Pode caminhar-se para uma era de pós-recessão e abundância, era do pós-emprego, resultante de uma simplificação do Estado Social, com novas políticas tributárias e a atribuição do rendimento básico universal que conduzirá ao fim do medo da escassez.
Legalmente, as tendências apontam para um fim das relações de cidadania, o nascimento de uma nova geração de direitos com os códigos de conduta e a integração do Direito como o conhecemos hoje ou, no sentido oposto, o surgimento de uma nova geração de direitos (de transhumanos ou entidades completamente digitais), que levarão à alteração profunda dos conceitos de responsabilidade civil, onde o espaço de nascimento, residência ou trabalho vai ser irrelevante.
Arlindo Oliveira, presidente do Instituto Superior Técnico, comentou e completou o cenário traçado pela APDSI, lembrando que vivemos no momento machine learning no qual se começa a atuar nas redes neuronais profundas.
Será possível simular o cérebro humano? Segundo os mais recentes testes, feitos no computador mais potente do mundo à presente data, o Sunway TaihuLight, essa simulação está longe de ser exequível no curto prazo mas as tecnologias continuam a evoluir.
Segundo o presidente do IST, há objeções à possibilidade de fazer sistemas inteligentes que possam substituir humanos em tarefas não específicas (ao contrário do que acontece hoje): objeção religiosa, objeção de consciência e objeção tecnológica.
O encontro terminou com um debate sobre o futuro moderado pelo jornalista e investigador Reginaldo Rodrigues de Almeida.
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