Leia a nota de introdução ao lançamento do livro feita pelo Professor Dias Coelho, presidente da Direção da APDSI:
"A APDSI – Associação para a Promoção e Desenvolvimento da Sociedade da Informação organiza desde o ano 2002 um encontro de reflexão sobre o futuro da sociedade da informação e do conhecimento focado em temas que, em cada ano, apresentavam maior acuidade, interesse ou preocupação para o futuro nesse contexto temporal. Esta iniciativa recebeu o apoio da ANACOM – Autoridade Nacional das Comunicações, desde a primeira hora, integrado na sua responsabilidade estatutária no desenvolvimento da sociedade da informação em Portugal.
Após a realização da décima edição do Fórum da Arrábida em Outubro de 2011 considerou-se ter chegado a hora de passar para livro esse conjunto de reflexões numa preocupação de síntese e de registo histórico, apesar dessa documentação ter ficado disponível em formato digital no sítio na web da APDSI, imediatamente após a sua produção.
Reconhece-se que este livro é uma cedência ao analógico num mundo cada vez mais digital. Mas tal como a televisão não destronou a rádio, nem esta a imprensa escrita, nem o cinema o teatro, continuará a haver lugar para o livro, mesmo numa sociedade predominantemente digital.
Repensar a sociedade da informação e do conhecimento no início do Séc. XXI que constitui o tema deste livro, encontra a sua justificação no facto de perspectivar o futuro ser uma actividade normal da natureza humana. Em áreas com uma evolução muito rápida para além de normal é uma necessidade.
A temática da sociedade da informação e do conhecimento está precisamente nesta última categoria. As implicações no quotidiano dos cidadãos, na organização da sociedade, nos comportamentos colectivos, na forma de gerir os negócios, na comunicação social, na educação, na saúde, na cultura e no entretenimento, para referir apenas algumas das áreas em que as suas repercussões se fazem sentir, são muito importantes.
Pensar o futuro é deste modo uma actividade imprescindível para todos aqueles que desejam intervir no desenvolvimento deste processo, que se encontra em curso na sociedade, em que a informação e o conhecimento ganham um papel progressivamente mais importante na criação de riqueza e na melhoria da qualidade de vida. Os efeitos fazem-se sentir no campo social e no domínio da organização política. As transformações tecnológicas são o gatilho que faz detonar essas alterações, nem sempre de forma imediata. É habitual existir um período mais ou menos longo de assimilação da tecnologia e de exploração das suas potencialidades. Não podemos ficar alheios a este conjunto de questões que de certo modo influenciam o futuro de todos os cidadãos e, ainda, dos agentes económicos, em Portugal e nos países desenvolvidos ou em vias de desenvolvimento, como foi constatado na Cimeira das Nações Unidas sobre a Sociedade da Informação que se realizou em Genebra, no final de 2003.
A sociedade da informação e do conhecimento está por todo o lado, e também no discurso dos políticos que se aperceberam que deve ter alguma importância, dado o número de cimeiras e conferências ministeriais organizadas por entidades idóneas, da União Europeia às Nações Unidas.
Em Portugal não se fugiu à regra. Menciona-se a importância da governação electrónica e dos seus contributos para a modernização do Estado e aumento da produtividade da administração pública.
Os planos operacionais respectivos dispõem sempre de recursos, que infelizmente com frequência no passado foram transferidos para outros programas operacionais, igualmente importantes.
Enquanto isso a administração pública continua enredada na ausência de sistemas de informação adequados ao cabal desempenho das suas funções. A situação é ainda parecida em vários sectores da administração pública com aquela que ocorria na banca dos anos sessenta antes de ter havido investimento nos respectivos sistemas de informação. Os que viveram essa época ainda se recordam das enormes filas para efectuar o levantamento do dinheiro para as necessidades da semana, mediante um cheque – não havia Multibanco – que tinha de ser confirmado na agência em que a conta tinha sido aberta. Batalhões de funcionários bancários asseguravam laboriosa e empenhadamente essas sublimes funções.
A administração pública ainda está um pouco assim. Em muitos hospitais não há rasto dos exames efectuados pelo doente, mesmo que tenham sido efectuados nesse mesmo hospital. Já não falamos da história clínica do doente, respeitando normas claras de confidencialidade e de deontologia médica, disponível sempre que necessário para a prestação de cuidados de saúde.
Na educação o ministério desconhece o seu corpo docente tendo necessidade de organizar concursos que envolvem centenas de milhares de professores para a sua colocação, todos os anos. Depois, uns meros erros na entrada de alguns dados criam por vezes enorme polémica nacional e o atraso no início do ano escolar. Poderíamos também referir aquela ideia interessante da Internet das escolas, isolada da adequação dos planos de estudo e das práticas pedagógicas, o que corresponde a continuar a ensinar o mesmo com a Internet para animar os alunos.
Na justiça é melhor não se falar. Todos aqueles pareceres e deliberações muito doutos a serem repetidos sem “cópia e colagem”, em processos perdidos no tempo, cozidos com cordéis, para ficarem mais seguros e as folhas não se perderem com as correntes de ar. Imaginem um banco a funcionar da mesma forma com os cheques agravados no dossier da conta do titular. Quatro a cinco anos para dar andamento a processos que a mais elementar justiça exigia que não ultrapassassem quatro a cinco meses. A jurisprudência longe da ponta dos dedos para que os senhores doutores juízes tenham que vasculhar muito para poderem decidir com isenção.
As compras públicas a serem processadas por laboriosos mecanismos burocráticos, algumas vezes propositadamente pouco transparentes, fazendo tábua rasa das aquisições por via electrónica, quando as próprias donas de casa já estão a desabituar-se de ir ao supermercado.
É neste contexto nacional, onde felizmente se vão observando melhorias pontuais que pouco a pouco vão alterando o panorama no sentido positivo do aumento de eficiência, que os Fóruns da Arrábida se processaram. A sociedade da informação e do conhecimento não é para levar com ligeireza pois tem a ver directamente com a qualidade de vida dos cidadãos, incluindo estes na sua qualidade de profissionais ou agentes económicos e uma vez que a competitividade do país no contexto das nações depende directamente da sua capacidade de se adaptar à era em que se vive. Não nos podemos esquecer que esta é a era da sociedade da informação e do conhecimento".
"A APDSI – Associação para a Promoção e Desenvolvimento da Sociedade da Informação organiza desde o ano 2002 um encontro de reflexão sobre o futuro da sociedade da informação e do conhecimento focado em temas que, em cada ano, apresentavam maior acuidade, interesse ou preocupação para o futuro nesse contexto temporal. Esta iniciativa recebeu o apoio da ANACOM – Autoridade Nacional das Comunicações, desde a primeira hora, integrado na sua responsabilidade estatutária no desenvolvimento da sociedade da informação em Portugal.
Após a realização da décima edição do Fórum da Arrábida em Outubro de 2011 considerou-se ter chegado a hora de passar para livro esse conjunto de reflexões numa preocupação de síntese e de registo histórico, apesar dessa documentação ter ficado disponível em formato digital no sítio na web da APDSI, imediatamente após a sua produção.
Reconhece-se que este livro é uma cedência ao analógico num mundo cada vez mais digital. Mas tal como a televisão não destronou a rádio, nem esta a imprensa escrita, nem o cinema o teatro, continuará a haver lugar para o livro, mesmo numa sociedade predominantemente digital.
Repensar a sociedade da informação e do conhecimento no início do Séc. XXI que constitui o tema deste livro, encontra a sua justificação no facto de perspectivar o futuro ser uma actividade normal da natureza humana. Em áreas com uma evolução muito rápida para além de normal é uma necessidade.
A temática da sociedade da informação e do conhecimento está precisamente nesta última categoria. As implicações no quotidiano dos cidadãos, na organização da sociedade, nos comportamentos colectivos, na forma de gerir os negócios, na comunicação social, na educação, na saúde, na cultura e no entretenimento, para referir apenas algumas das áreas em que as suas repercussões se fazem sentir, são muito importantes.
Pensar o futuro é deste modo uma actividade imprescindível para todos aqueles que desejam intervir no desenvolvimento deste processo, que se encontra em curso na sociedade, em que a informação e o conhecimento ganham um papel progressivamente mais importante na criação de riqueza e na melhoria da qualidade de vida. Os efeitos fazem-se sentir no campo social e no domínio da organização política. As transformações tecnológicas são o gatilho que faz detonar essas alterações, nem sempre de forma imediata. É habitual existir um período mais ou menos longo de assimilação da tecnologia e de exploração das suas potencialidades. Não podemos ficar alheios a este conjunto de questões que de certo modo influenciam o futuro de todos os cidadãos e, ainda, dos agentes económicos, em Portugal e nos países desenvolvidos ou em vias de desenvolvimento, como foi constatado na Cimeira das Nações Unidas sobre a Sociedade da Informação que se realizou em Genebra, no final de 2003.
A sociedade da informação e do conhecimento está por todo o lado, e também no discurso dos políticos que se aperceberam que deve ter alguma importância, dado o número de cimeiras e conferências ministeriais organizadas por entidades idóneas, da União Europeia às Nações Unidas.
Em Portugal não se fugiu à regra. Menciona-se a importância da governação electrónica e dos seus contributos para a modernização do Estado e aumento da produtividade da administração pública.
Os planos operacionais respectivos dispõem sempre de recursos, que infelizmente com frequência no passado foram transferidos para outros programas operacionais, igualmente importantes.
Enquanto isso a administração pública continua enredada na ausência de sistemas de informação adequados ao cabal desempenho das suas funções. A situação é ainda parecida em vários sectores da administração pública com aquela que ocorria na banca dos anos sessenta antes de ter havido investimento nos respectivos sistemas de informação. Os que viveram essa época ainda se recordam das enormes filas para efectuar o levantamento do dinheiro para as necessidades da semana, mediante um cheque – não havia Multibanco – que tinha de ser confirmado na agência em que a conta tinha sido aberta. Batalhões de funcionários bancários asseguravam laboriosa e empenhadamente essas sublimes funções.
A administração pública ainda está um pouco assim. Em muitos hospitais não há rasto dos exames efectuados pelo doente, mesmo que tenham sido efectuados nesse mesmo hospital. Já não falamos da história clínica do doente, respeitando normas claras de confidencialidade e de deontologia médica, disponível sempre que necessário para a prestação de cuidados de saúde.
Na educação o ministério desconhece o seu corpo docente tendo necessidade de organizar concursos que envolvem centenas de milhares de professores para a sua colocação, todos os anos. Depois, uns meros erros na entrada de alguns dados criam por vezes enorme polémica nacional e o atraso no início do ano escolar. Poderíamos também referir aquela ideia interessante da Internet das escolas, isolada da adequação dos planos de estudo e das práticas pedagógicas, o que corresponde a continuar a ensinar o mesmo com a Internet para animar os alunos.
Na justiça é melhor não se falar. Todos aqueles pareceres e deliberações muito doutos a serem repetidos sem “cópia e colagem”, em processos perdidos no tempo, cozidos com cordéis, para ficarem mais seguros e as folhas não se perderem com as correntes de ar. Imaginem um banco a funcionar da mesma forma com os cheques agravados no dossier da conta do titular. Quatro a cinco anos para dar andamento a processos que a mais elementar justiça exigia que não ultrapassassem quatro a cinco meses. A jurisprudência longe da ponta dos dedos para que os senhores doutores juízes tenham que vasculhar muito para poderem decidir com isenção.
As compras públicas a serem processadas por laboriosos mecanismos burocráticos, algumas vezes propositadamente pouco transparentes, fazendo tábua rasa das aquisições por via electrónica, quando as próprias donas de casa já estão a desabituar-se de ir ao supermercado.
É neste contexto nacional, onde felizmente se vão observando melhorias pontuais que pouco a pouco vão alterando o panorama no sentido positivo do aumento de eficiência, que os Fóruns da Arrábida se processaram. A sociedade da informação e do conhecimento não é para levar com ligeireza pois tem a ver directamente com a qualidade de vida dos cidadãos, incluindo estes na sua qualidade de profissionais ou agentes económicos e uma vez que a competitividade do país no contexto das nações depende directamente da sua capacidade de se adaptar à era em que se vive. Não nos podemos esquecer que esta é a era da sociedade da informação e do conhecimento".