A APDSI reuniu com os representantes dos partidos políticos com assento na Assembleia da República para debater as estratégias e propostas para a Sociedade da Informação e do Conhecimento, centradas numa perspetiva de futuro para a economia.
Tiago Ivo Cruz, representante do Bloco de Esquerda, advertiu para alguns aspetos menos positivos que estão diretamente relacionados com o desenvolvimento das novas tecnologias sem, no entanto, valorizar em excesso o colapso de certas cadeias laborais a que este processo levou. “É um erro de análise apontar um colapso geral de certos setores da economia como consequência do desenvolvimento trazido pela Internet e da circulação da informação, que trouxe um novo potenciar de escalas económicas que não têm razão para não funcionarem lado a lado com as cadeias tradicionais”, sublinha o membro do grupo parlamentar do Bloco de Esquerda.
Lembrando que apenas 4% dos serviços do Estado português têm software livre, Tiago Ivo Cruz apela ao inverter desta realidade: “O software livre corresponde a uma opção que os serviços públicos devem tomar porque é ele que melhor responde à necessidade de uniformização da informação e a uma melhoria da relação com os cidadãos, centralização, credibilidade e reutilização da própria informação. É de valorizar a possibilidade de se mexer nele de forma livre e criativa”.
Raúl Almeida, em representação do Centro Democrático Social/Partido Popular, lê o desenvolvimento da Sociedade da Informação como uma revolução que provoca uma quebra no emprego tradicional. “Há uma acessibilidade direta e em tempo real a tudo. As funções de todos os quadros médios de empresas são, hoje em dia, mais de interpretação dos dados disponíveis e da realidade funcional de cada companhia, do que eram antigamente. Esta realidade tem que ser importada para a reforma do Estado”. A diferença entre regulamentação e regulação do setor também mereceu a atenção de Raúl Almeida.
Repetindo a experiência de participação neste debate bi anual que a APDSI promove, Bruno Dias, do Partido Comunista Português, referiu-se ao papel das TIC na produção nacional: “Crescimento económico. Temos usado muito esta expressão como uma expressão do passado e não pode continuar a ser assim. Está a registar-se uma quebra no investimento superior a 26% o que pode pôr em causa o próprio potencial produtivo do país. Não era este cenário que esperávamos ter pela frente quando falávamos que era urgente pôr Portugal a produzir para as nossas próprias necessidades. Estamos a substituir exportação por emigração”.
Para o deputado a resposta que o Governo deverá dar tem de estabelecer uma melhor relação entre a Sociedade da Informação e a atividade económica. “O apelo ao uso de software livre, presente no Orçamento de Estado para 2013, só faz sentido se eu não for prejudicado na minha relação com o Estado ao usá-lo. Cá estaremos até ao final do ano para ver como é que isto será cumprido”, concluiu Bruno Dias.
O Licenciamento Zero esteve no centro do discurso do representante do Partido Ecologista “Os Verdes”. Rui Lopo destacou a tentativa de implementação desta medida que tem por objetivo facilitar a implementação de actividades económicas no país: “Reconheço que o Estado tem um longo caminho a percorrer para melhorar a relação que tem com os cidadãos no âmbito da Sociedade da Informação. Na Reforma do Estado é urgente que haja uma maior agilidade nestes tópicos”.
Nuno Encarnação, do PSD, destacou, em contrapartida, a evolução que o Estado já fez na evolução digital nos serviços relativos ao IRS e ao selo do carro, por exemplo, que considerou “uma óbvia otimização de serviços”.
Quanto à evolução tecnológica e à mudança que a mesma provoca na estrutura de emprego, o deputado Social Democrata deixou as suas preocupações serem alvo de debate: “Daqui a 20 anos como é que tudo isto será? Se as lojas se tornam virtuais, o que será feito dos shopping centers? É que já hoje em dia verificamos que as vendas online têm promoções melhores do que as das lojas franchisadas”.
Com um maior enfoque na dinamização do mercado dos media, Inês de Medeiros, do PS, ressalvou a importância de haver legislação supra nacional dirigida àquela que chamou de nova revolução industrial: “Não tenho dúvidas de que a Sociedade da Informação vai alterar todo o sistema social existente. Devemos analisar todas as relações sociais ou comerciais que o advento digital trouxe. A noção de território e de Estado-Nação vai alterar-se e isso é um desafio muito grande para as autoridades europeias que são muito lentas a refletir nesta matéria”.
Antes de terminar a sua intervenção, a deputada disse acreditar que a criatividade humana continuará a ser o valor fundamental num mercado onde as máquinas estão a conquistar terreno.
Durante o debate com a assistência percebeu-se a preocupação generalizada face ao impacto que a robótica e as novas tecnologias poderão ter na criação de emprego e desenvolvimento económico, tendo os representantes dos partidos políticos ouvido críticas e sugestões de alterações necessárias para a sociedade atual que passam, nomeadamente, por uma maior aposta nas empresas de TIC e numa educação precoce assente na informática.
O debate, que reuniu cerca de meia centena de participantes, foi moderado pelo jornalista Vasco Trigo e decorreu na passada terça-feira, 25 de junho, na Assembleia da República.