segunda-feira, 7 de março de 2011

8º Encontro da PASC - O Papel Estratégico da Sociedade da Informação no Desenvolvimento Económico e Social de Portugal



A Plataforma Activa da Sociedade Civil (PASC) e a Associação para a Promoção e Desenvolvimento da Sociedade de Informação (APDSI) organizaram, em parceria, um encontro para debater a importância estratégica da Sociedade da Informação e do Conhecimento no desenvolvimento económico e social de Portugal.

O professor de Jornalismo Online da Universidade Lusófona e moderador da primeira parte do debate, José Vítor Malheiros, a representante da PASC, Maria Perpétua Rocha, o professor João Álvaro Carvalho, da Universidade do Minho, o economista e especialista em sociedade da informação, Jaime Quesado e o Dr. Luís Vidigal, membro da direcção da APDSI, foram os convidados deste 8º encontro da PASC.

O debate foi marcado pelos recentes acontecimentos, envolvendo os vários quadrantes da sociedade civil, como é o caso da influência da plataforma de rede social Facebook na queda do presidente do Egipto, Hosni Mubarack, a venda de músicas online, os novos modelos de negócio, a problemática da administração pública e a burocracia electrónica, bem como a inteligência competitiva dos recursos humanos em ciência e tecnologia.

No séc. XX a informação é a palavra de ordem

João Álvaro Carvalho começou por estabelecer uma comparação entre a “revolução” do século XVIII, quando surgiram o que designou por “amplificadores das capacidades físico-motoras”, com a do século XX, marcada pelo aparecimento dos “amplificadores das capacidades intelectuais”, dando maior protagonismo à informação. «Temos que nos habituar a esta nova sociedade. O suporte e a distância, hoje em dia, não são importantes. O consumidor passa, também, a ser produtor de informação em larga escala e os blogues são bem o exemplo disso. Isto trará os seus problemas... hoje em dia qualquer amador com acesso à Internet publica o que quer que seja e muitas vezes encontramos maus trabalhos publicados, porque qualquer um o pode fazer», disse o professor.

Este novo papel da sociedade da informação tem, no entanto, consequências derivadas do paradigma das novas proximidades, como alertou João Álvaro Carvalho: «Esta abundância de computação, memória, largura de banda e dispositivos móveis, veio trazer-nos uma nova forma de ver e de estar no mundo. Agora importam os serviços personalizados, os talentos individuais e é aqui que as grandes empresas encontram nichos de mercado. Aquilo que fazemos vai estar algures na Web, há maior transparência, o que também levanta novas questões de ética, como por exemplo, em quem podemos confiar?».

Quanto ao impacto que as novas tecnologias de informação e comunicação podem vir a ter no mercado de trabalho, o professor considera que a economia vai ter de saber lidar com o hábito instaurado de não termos de pagar pela informação que está online, o que vai obrigar as pessoas a terem de se especializar numa sociedade de criatividade, de talento e empreendedorismo.

Administração Pública – a inimiga da sociedade?

O Dr. Luís Vidigal podia muito bem ter ganho o prémio da comunicação mais animada deste encontro: o seu power point com imagens coloridas a exibirem uma República bem rechonchuda (representando o peso que constrange, limita e inibe) deu-nos alguns dados surpreendentes sobre os investimentos que têm sido feitos ao nível governamental e que, ainda, não conseguiram atingir a tão desejada “interoperabilidade”. «O papel continua a fazer parte da sociedade. A burocracia electrónica, que ainda existe, tem que dar lugar a uma colaboração digital; tem que se deixar de Imprimir para se passar a Enviar. O papel surge sempre criando o paradoxo da improdutividade. Continuamos a ter o paradigma do papel e das máquinas» destacou, sobre o desafio da colaboração digital.

Luís Vidigal mencionou alguns dados estatísticos que mostram Portugal entre os quatro países com maior sofisticação de serviços, mas alertou para o muito que ainda há a melhorar. «Não podemos ficar satisfeitos porque estamos no topo nalgumas coisas. Ainda se verificam muitos problemas de desintegração de sistemas, conflitos de poder, falta de digitalização... construímos castelos, a informação ainda é vertical e não horizontal, mesmo quando a intenção é estar-se voltado para o cidadão. Os sistemas não falam uns com os outros, não colaboram entre si. Uma visão agregadora tem que ser permanente e sincronizada para não haver momentos de aceleração de processos e outros em que é inevitável assistirmos a um retardar e prescrever do processo», referiu.

Para Luís Vidigal as certidões são, de um modo geral, inúteis e podem praticamente ser substituídas por bits porque as tecnologias da informação “conseguem de facto ajudar a tornar transparente o Estado”: «A interoperabilidade entre ministérios e processos, mais do que a tecnológica, é feita por pessoas que têm de cooperar. É preciso falar a mesma língua para que as pessoas possam comunicar entre si», concluiu.

Sociedade do Conhecimento = Sociedade das Oportunidades

O economista Jaime Quesado começou por apontar a falta de eficiência da Justiça no que toca à aplicação das tecnologias de informação, citando, para isso, estatísticas que apontam para uma posição, do ponto de vista de recursos humanos em ciência e tecnologia no nosso país, ainda muito aquém da média europeia.

Contudo, a intervenção do especialista valorizou a importância da inteligência competitiva, nos dias que correm, ou seja, os recursos humanos devem ser mais competentes em ciência e tecnologia: «A sociedade do conhecimento é uma área muito transversal mas, sobretudo, é um acto de colaboração. A “competição com cooperação” dá lugar à chamada “coopetição” que virá trazer novas oportunidades». Outros dados relevantes apresentados foram relativos à capacidade do Estado para ser uma entidade eficiente. Dados esses que revelam valores baixos na confiança que o Estado inspira actualmente aos cidadãos.

Para Jaime Quesado as novas tecnologias de integração operacional só fazem sentido se tiverem uma aplicação do ponto de vista social. O economista explicou que a coesão social deve mover os valores pelos quais se pauta a sociedade do conhecimento. «Os milhões gastos recentemente em Portugal têm um balanço positivo. Portugal é um país de nova geração mas é preciso perceber que os progressos informáticos não aceleram a coesão social. Há uma parte da sociedade que não tem facilitado o acesso a esses instrumentos. A sociedade do conhecimento é, acima de tudo, um acto de colaboração», salientou o economista.

Conclusão

Em conclusão, o professor Dias Coelho, presidente da direcção da APDSI, disse que o contributo da Sociedade da Informação e do Conhecimento para o desenvolvimento económico e social de Portugal está em todo o lado: «As empresas precisam da utilização intensiva das tecnologias porque é por essa via que chegam à informação. Por outro lado, reconheceu que a sociedade também recorre aos mesmos instrumentos para o entretenimento».

O 8º Encontro da PASC, em parceria com a APDSI, para debater o Papel Estratégico da Sociedade da Informação no Desenvolvimento Económico e Social de Portugal, realizou-se no passado dia 2 de Março, na Sala do Senado, na Reitoria da Universidade Nova de Lisboa (Campus de Campolide).

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