A APDSI realizou, a 18 de novembro, o workshop "Geocompetitivo 2015 - Partilha de SIG em Serviços de Utilidade Pública", sob a coordenação do Prof. Mário Rui Gomes.
O workshop serviu para debater a atual partilha de informação geográfica, como atitude potenciadora do retorno dos investimentos feitos pelas diferentes organizações que dela necessitam e que estabelece, à partida, boas práticas colaborativas entre os operadores. Ainda sem uma estratégia devidamente prevista na lei, a partilha no Sistema de Informação Geográfica (SIG) foi unanimemente considerada uma espécie de "fórmula mágica".
Ana Isaías, da Autoridade Nacional das Comunicações (ANACOM), começou por apresentar o SIC - Sistema de Informação Centralizada - através do qual diz que a Autoridade «espera que haja informação correta sobre o que existe em cada sítio, minimizando, assim, os custos». O SIC assenta num princípio de partilha de informação e reciprocidade, e podem aceder ao sistema as entidades «que assegurem o cumprimento das obrigações de informação que o integram», uma vez que o SIC é, segundo a responsável, «desejavelmente onde está a informação mais eficiente sobre cadastro e alojamento de redes e comunicações eletrónicas, por exemplo».
O SIC é a plataforma web de referência no acesso à informação, por parte de todas as empresas de comunicações eletrónicas, sobre as infraestruturas aptas ao alojamento das respetivas redes em conformidade com o previsto no Decreto-Lei n.º 123/2009, de 21 de maio, com a redação que lhe foi conferida pela Lei n.º 47/2013, de 10 de julho.
O cadastro contém informação completa e georreferenciada sobre os procedimentos e condições aplicáveis ao acesso e utilização das infraestruturas aptas, informações dos anúncios de construção de novas condutas e informação sobre os procedimentos e condições de que depende a atribuição de direitos de passagem para a construção das tais infraestruturas aptas. «Existe um período de tempo em que entidades concorrentes podem manifestar interesse num anúncio de construção», esclarece Ana Isaías.
A apresentação de Ana Maltez, da PT Portugal, começou por situar na história a ferramenta de georreferenciação de cadastro que «começou em 2000 em Mapguide da Autodesk. Inicialmente tinha uma cartografia só vetorial». Daqui, a ORAC - Oferta Regulada de Acesso a Condutas, surge como uma das propostas de maior sucesso, uma vez que integra diferentes componentes do serviço que permite aos operadores acederem a informação que lhes é crucial. As ofertas de acesso à infraestrutura da MEO foram consideradas pela Comissão Europeia um caso de sucesso ao nível europeu.
A ORAC é um portal que permite aceder a plantas de abrangência nacional e informação detalhada sobre condutas, explica Ana Maltez: «É uma oferta estruturada, com informação muito técnica, que outros operadores podem utilizar além do setor das telecomunicações».
Todo o sistema SIG tem que estar em constante atualização porque é a base de todo o trabalho; os ficheiros têm de ser sempre publicados em todas as fases de estudo. Isso fez com que fossem criados mecanismos internos com a possibilidade dos prestadores de serviços também poderem atualizar informação, esclareceu Bruno Abrantes, da NOS Comunicações. Sobre a partilha, o representante da NOS considera que devia haver «uma plataforma acessível que permitisse que o processo fosse mais célere. A rede só é expandida quando se conseguem conciliar autorizações». A marca cruza informação com a ORAC e reconhece que ao fazê-lo consegue ser mais assertiva nas propostas que apresenta ao mercado. «Sobre a partilha de informação, o mesmo operador tem que fazer um levantamento das infraestruturas que vai usar, registá-las e só depois perceber da viabilidade das suas intenções. O pior é que qualquer outro operador tem de fazer o mesmo trabalho», lamenta.
Álvaro Oliveira, da Vodafone Portugal, segue a mesma linha de pensamento e considera que a ORAC é a «mais bem definida oferta de referência». As ferramentas de Serviço de Informação Centralizada na Vodafone começaram a ser desenvolvidas em 2007 mas só tiveram maior impacto na empresa quando começou o projeto de fibra. Nessa altura foi necessário saber exatamente onde estão as infraestruturas. «O SIC permite ter uma melhor estratégia. Facilmente consigo ter acesso ao mapa e distribuir o esforço de maneira mais assertiva, ter um maior controlo de qualidade e é ainda uma ferramenta importante para as estatísticas, permitindo tomar decisões mais rapidamente e mais esclarecidas, com mais conhecimento de causa. O fenómeno base é de competição mas também de cooperação», descreve o responsável da Vodafone.
Já no painel de SIG dedicado à partilha das Águas, Energia e Mobilidade, Luís Alexandre Correia, da Infraestruturas de Portugal, assegura que 90% da informação rodoviária já está centralizada numa base de dados, com 26 mil quilómetros de rede representada geograficamente, e sublinha que a partilha só é possível se a organização tiver confiança e uma boa referência das suas informações. «Os conteúdos geográficos foram integrados e há uma tendência evolutiva, nomeadamente entre os colaboradores da Refer nos acessos ao sistema SIG», afirma Luís Alexandre Correia. As soluções SIG Móvel são outra aposta da Infraestruturas de Portugal para o futuro onde quer continuar a privilegiar as permutas.
Jorge Lopes, da Brisa Auto-Estradas de Portugal, reconhece que o Sistema de Informação Geográfica «alavanca as operações de patrulha que estão assentes no centro de coordenação operacional». A Brisa, para operar e manter a rede, dispõe de um conjunto de sistemas de informação que usam um spatial reference data único e serviços de informação geográfica. Atualmente a Brisa não partilha qualquer SIG (dados ou serviços) para o domínio da mobilidade ou outro setor.
À semelhança do que acontece na Brisa Auto-Estradas de Portugal com o tráfego, também há muitas infraestruturas de tratamento e bombagem de condutas de água, geograficamente distribuídas, e cujo cadastro e ferramentas de gestão são essenciais à atividade que a Aquasis / AdP - Águas de Portugal desenvolve. Segundo José António Pestana, o grupo investiu mais de sete mil milhões de euros para ter níveis elevados de qualidade no país. Para tal, o SIG tem um importante papel no garantir da permanente atualização do cadastro com base naquilo que os empreiteiros vão produzindo e, posteriormente, a garantir o acesso à informação por parte de todos os colaboradores, nomeadamente através da Intranet. «Os ganhos são vários quer na componente ambiental, social ou económica», assegura José António Pestana.
Na apresentação de Jorge Mendes Santos, da EDP Distribuição, percebemos que o SIG da EDP será dos mais antigos, já que data de 1976, tendo todos esses registos iniciais começado num arquivo em papel. O SIG da EDP tem informação técnica e geográfica sobre os seis milhões de clientes que a empresa serve, bem como informação sobre as Redes Energéticas Nacionais (REN) e autarquias, «o que resulta em bases de dados que vão além dos quatro terabytes mas, para isso, trabalhámos afincadamente no SIG. Boas práticas a reter? Selecionar informação e filtrar a que é mais importante», aconselha o responsável, que admite que a EDP tem muitas vantagens ao estabelecer sinergias, como a rapidez na troca de informação e rigor na sua apresentação.
Por oposição, na Galp Energia o SIG só nasceu há cerca de cinco anos e hoje integra-se com o sistema comercial e o sistema de gestão de ativos, como o apoio à manutenção. «A identificação de ramais afetados e válvulas a fechar nessa circunstância é um dos resultados mais práticos do recurso ao SIG», diz José Catela Pequeno. A Galp Energia também partilha a sua informação, através do seu sítio na web ou, em maior pormenor, sob registo a quem necessitar de outros dados e funcionalidades.
"Partilha da Informação: presente e futuro" foi o painel que encerrou o workshop e que contou com os seguintes oradores: Nuno Santos, da CGI TI Portugal, Nuno Leite, da ESRI Portugal, Victor Ferreira, da Associação OSGeo Portugal, Hugo Dias, da PH Informática e Nuno Xavier, da Câmara Municipal de Lisboa. Uma das principais conclusões a que o grupo chegou é que o SIC só tem utilidade pública se estiver atualizado e se puder ser contextualizado. Afinal, o desenvolvimento da Sociedade da Informação deve ser o mote e a inspiração para a partilha de dados, uma vez que os custos têm sempre consequências no preço dos serviços para o consumidor final.
O encontro decorreu em Lisboa, no Auditório da Escola Profissional Gustave Eiffel, no Campus Académico do Lumiar, e teve o coffee-break servido pelos alunos de "Técnica de Restauração e Bar" da Escola Gustave Eiffel.
Veja
aqui as apresentações dos oradores.